A pista escandinava

Não há muito tempo escrevi eu acerca do meu desejo de ser professor escandinavo (finlandês, mais precisamente) a propósito de afirmações mais ou menos a despropósito de Jorge Sampaio. Dizia ele que os professores finlandeses passavam 50 horas na escola e, apesar disso ou por isso mesmo, eu queria ser finlandês. Uns pensaram que eu queria mudar de presidente, outros que eu precisava de arrefecer e houve mesmo quem pensasse que eu só queria mudar para um país onde se podia viver sem governo. Estávamos então no princípio da campanha malévola contra a função pública, em geral, e os professores das escolas públicas, em particular. O jornal diário fez-se caixa de eco destas declarações, sem comentários a favor da verdade. Em 11 de Setembro, quando as aulas estavam a começar em Portugal, na revista que acompanha a edição dominical do Público, aparece uma reportagem sobre as escolas da Finlândia. Há alguma deambulação interessante pela vida de alunos e de escolas. Numa caixa destacada, sob o título ?Sistema?, lá se pode ler que os professores (finlandeses) "têm cerca de 35 horas lectivas semanais e a preparação das aulas é feita em casa, em horas não laborais". Na revista do domingo seguinte, é publicada a carta de um leitor a desmentir e desmontar a informação e a repórter viajante publica um minúsculo pedido de desculpas e fala de um mal entendido (????) sobre o assunto. Nunca poderei provar que o meu jornal diário fez algum trabalho sujo para ajudar a desacreditar os professores no tempo em que o governo estava a tomar medidas (duvidosas e de cobertura para outros voos) sobre os horários de trabalho nas escolas públicas. Que miem os gatos escondidos se eu estiver a pisar-lhes os rabos que vejo.

E é altura de voltar à pista escandinava. Os nossos jornais que tanto abusaram da inspiração na musa escandinava para as escolas podem agora verificar que, se há arguidos entre os políticos nacionais, regionais ou locais escandinavos, a ninguém passa pela cabeça que suspeitos e arguidos possam apresentar-se como candidatos. Por cá, dezenas de arguidos por acções ligadas ao desempenho de cargos públicos estão a candidatar-se a cargos públicos, obtendo o favor de todos os jornais para publicitar as suas actuações mais ou menos à margem das leis e dos bons costumes.

Espalhemos o exemplo escandinavo! Então? Vamos lá a isso! E agora nem é preciso mentir!



[o aveiro;29/09/2005]

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pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui