Como chamar ninguém pelo nome?

Vivemos num estado de direito e sabemos quem faz as leis, quem as fiscaliza nas suas aplicações e consequências, quem as promulga. Ninguém mais que os professores deve saber isso, saber dos passos, dar os passos. E dar lição e testemunho disso.

Cada professor vota e deve conhecer os deputados que elege, conhece os ministros e secretários de estado que assinam leis, os deputados que as podem aprovar ou reprovar. Pelo nome, conhecem quem assina as propostas de lei, quem as promulga, as chama a si e as verifica, recomenda alterações e as pode vetar. O sistema é ainda mais transparente para os dirigentes dos professores, ligados à política activa, a partidos e sindicatos.

Ninguém mais que os professores está habituado a reclamar contra alterações de decretos por despachos. Estas alterações de circunstância que aparecem como esclarecimentos, adequações ou similares parecem trapalhadas umas vezes e trapaças outras vezes. Os professores falam da necessidade do cumprimento da lei e reclamam o direito de cidadania de lutar contra as leis para influenciar as instâncias próprias para a sua alteração ou negação. Os educadores sabem onde estão as sedes do estado de direito e sabem quem representa os seus interesses nestes jogos de poder em que a diversidade da opinião é fundamental. E sabem que essa diversidade de opinião, espelhada na assembleia, garante o sim e o não, o mais e o menos, o equilíbrio feito de pequenos nadas ou gestos do deputado que vota, quando volta da terra do nunca.

Como são professores os ministros, secretários, assessores, directores, subdirectores e funcionários da administração central, regional e local, também os professores podem ser deputados e os deputados professores. Muitos deles representam nada nem ninguém quase todo o tempo e a sua inexistência é má educação, deficiência profunda e ferida.

Os professores sabem que os seus deputados conhecem a agenda da assembleia e podem decidir faltar aos trabalhos parlamentares no dia em que podem mudar o curso da lei - sobre a avaliação de professores, por exemplo.

Mas só vagamente se fala dos deputados que faltam quando são precisos, porque todos sabemos que não sabemos se alguns deles alguma vez foram precisos. Porquê? Porque são nomes... de ninguém.

[o aveiro; 12/12/2008]

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