QUAD

Em textos matemáticos, escrevo muitas vezes “\quad” para forçar um espaço entre duas coisas que quero separadas. Ouço “quad”, por vezes. Já não sei quando foi a primeira vez, mas foi numa pequena sala da Fábrica da Ciência, que ouvi o “quad”. Não sei quando começou, mas passei a ouvi-los repetidamente. No fim da semana passada, fui ouvi-los ao “Performas”, depois de ter adormecido brevemente sobre uma viagem a reuniões sobre ensino de Matemática e associativismo profissional e passagem por um encontro de professores em Torres Novas.
Acordo para me forçar a um espaço entre afazeres que quero separar. Que interesse tem isto de falar dos intervalos na vida de um professor?

“Quad” é um clássico quarteto de saxofonistas. Três deles conheço-os desde muito jovens. Não, nunca fui professor de qualquer deles. Mas acompanham-me a vida de professor e são uma parte da vida da minha esperança na educação. Simultaneamente alunos da escola generalista e do Conservatório de Música, servem-me de modelo quando me ponho a pensar sobre ensino e educação, sobre escolas, sobre cultura e seus públicos. Olho para eles e decido-me a favor de umas políticas e contra outras. No mistério das suas vidas de pessoas que realizaram, com êxito, a sua formação geral, humanista e científica, e, com maior êxito ainda, se tornaram instrumentistas. De quantas horas diárias de treino precisa um atleta ou um instrumentista até estar capaz de ler, interpretar e executar um exercício complexo, sem falhas em frente do público que segue, com todos os sentidos alerta, a execução? De que professores e treinadores precisam os instrumentistas?

“Quad” é um moderno quarteto de saxofonistas. Quantas horas mais, quanta força mais, precisam os músicos (ou os actores) para compreender o seu tempo e forçar, pelas suas escolhas, a divulgação das obras que são novas e só habitam o espaço popular por obra de mãos magníficas que não ficaram paralisadas na teia de argumentos da aranha industrial do entretenimento, essa que vende sabores alisados sobre verdetes consagrados. A cultura musical é obra de cada nesga de tempo e ouço-os - Quad - também na escolha do estilo de vida difícil de educar públicos, criar públicos de novo e puro prazer. Sem sugá-los, nem segurá-los, antes soltá-los livres para o seu tempo. Alunos das escolas, colegas e professores uns dos outros como instrumentistas cultos, eles constroem-se como exemplo.

Como podem as comunidades conhecer e proteger os seus Conservatórios? E os “Quad”?

[o aveiro;23/01/2009]

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pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui