perguntas soltas para meias revoltas

por estes dias corre a vida por uma economia paralela
a todas as ruas humanas permanentemente vigiadas
por matilhas tensas para um salto prodigioso

quantos são os lobos quantos são os ladrões verdadeiros
quantos são feras necrófagas quantos os oportunistas
quantos os que contam as ocasiões para a oportunidade
(que faz o ladrão)

quantas mantas de retalhos sobre os olhos fechados e a boca
quantas narinas abertas ao vento das palavras
quantas palavras sussurradas por pares de olhos fechados
(para não ver a dor dos outros)

quantos cheiros fazem uma vala comum
quantos delírios formam um país de navegadores
quantos submarinos em docas secas
(vales de lágrimas e dinheiro pingado e evaporado)

quantos são
quais cheiros são adocicados pelo terror
quais as ciências dos que enchem a boca de razão
(prática toda ela como se fosse pura)

quais são os crimes vitoriosos em palácios da justiça
quais são os frufrus dos novos palácios
quais são os derrotados quais são os vencedores

quais são as necessidades quais são os palácios da caridade
quais são as quadrilhas internacionais quais são os bandidos
quais são os viajantes entre países credos e raças quais são as vendas

quais são os sonhos que são pesadelos
de quem são os sonhos e quais  são pesadelos de outros quais são
que nomes usam dentro de portas que nomes fora de portas

que língua falam que palavras dizem que fardas usam para as guerras
quando as travam quando decidem as ordens de compra e venda
quais os mercados onde compram escravos que executam as ordens

quantos quais quem são e de onde

viajam de lugar nenhum para nenhures
habitam num real mercado virtual da economia global mundial virtual
verdadeiramente paralela à humanidade

cortam-nos ao meio de nós estão no meio de nós são donos da casa
andam a despejar o cheiro do fel para matar a fome e sede
de justiça e a fome e a sede verdadeiras

entre nós eles contam-se pelos dedos
cortam-nos os dedos pelos anéis
e para não podermos contá-los nem apontá-los a dedo

que é só disso que têm medo
de resto contam com a ideia do medo de todos nós
em cada um de nós afinal o que são dias um dia não são dias.

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as caras mais a cara do burro feliz