A forma da sala de estar.

1.
A forma da sala de estar tem muita importância. Veja-se o cuidado posto na sala de estar da reunião magna do Partido Popular. Em vez da disposição de uma típica sala de estar, preferiram uma arena central e a forma de circo americano para estar. Como se houvesse um combate de boxe ou uma deambulação de feras amestradas para serem vistas por todos os lados, excluído o estreito túnel de entrada das feras, dos palhaços, dos lutadores.

As demonstrações da arena dão razão a quem diz que PP quer dizer muito Paulo Portas e pouco Partido Popular. De facto, já não é só no investimento da autoridade pessoal sobre o presente. Paulo Portas até propiciou uma reescrita da história do CDS/PP que passou a ser só PP – já não existem os protagonistas dos anos passados. Só restou a referência a Amaro da Costa que, para P. Portas, tem a vantagem de estar morto. Portas apagou todos os restantes nomes da memória do CDS/PP de que recordamos alguns: Freitas do Amaral, Lucas Pires, Adriano Moreira e Manuel Monteiro. Estamos em crer que P. Portas tem medo dos vivos e não acredita na alma eterna de quem quer que seja.

De resto, P. Portas fez as suas declarações de sobrevivência dentro da coligação e profissões de fé na verticalidade das suas convicções de direita: não tem vergonha de ser cristão de direita, não tem vergonha de ser patriota, não tem vergonha de defender o que pensa sobre a imigração, o aborto, etc … não tem vergonha. Como diria a minha mãe, depois de o ver enterrar os vivos, “não tem vergonha nenhuma!”. Talvez seja mais justo dizer que P. Portas não fala das coisas de que tem vergonha.

2.
Foram publicados os “rankings” das escolas. Mais uma vez, comparam-se escolas públicas com escolas privadas e o nosso Ministro insiste que tudo depende dos projectos educativos das escolas, como se dependesse de cada escola pública ter um projecto educativo do mesmo modo que uma privada o pode ter. Eu também penso que tudo depende dos projectos educativos, mas … das famílias, sendo que há famílias que não podem ou não sabem ter projectos educativos e escolares para os seus filhos. As escolas de Aveiro sobem ou descem de um ano para o outro nos “rankings” sem ter havido quaisquer mudanças a não ser uma: os estudantes (e os pais) de um ano não são os mesmo do ano anterior. Não diminuo o papel das escolas que precisam de melhorar, diminuo o significado do “ranking”. Cada escola é uma sala de estar de famílias da cidade.

3.
Lembram-se das trocas de acusações à política geral e à coordenação dos diversos serviços ligados à floresta, à prevenção e ao combate dos incêndios florestais? Houve demissões. Antes, demitiram-se de tomar as medidas mais adequadas e de fazer nomeações na base da competência. Depois, demitem-se as pessoas ainda antes das lições politicas. E aparecem as denúncias, neste momento com carácter de urgência, das já conhecidas corrupções (pequenas e grandes) dos comandantes dos bombeiros locais. Porquê assim e neste momento? Os bombeiros combatem os incêndios. Quem combate estes convenientes fogos de baralhação informativa? Na sala de estar de cada um, a consciência tem de armar-se em extintor.

[o aveiro; 2/10/2003]

2001 - Regresso ao trabalho. Regresso à escola.

O Público de sábado passado (e penso que outros jornais) publicaram as listas seriadas das escolas considerados os resultados deste ano. O Público dedicou a esta questão um caderno destacável.
Ainda não tive tempo de olhar com cuidado para a lista seriada deste ano e para os artigos de análise que constituem o caderno "Estado das escolas portuguesas". O título do caderno é, concerteza, a obra: chamam maximizante à abcissa de um valor mínimo da função informação sobre a coisa das escolas portuguesas. Esquecida a presunção da coisa, não podemos deixar de elogiar a vontade de influenciar as escolas para o bem e para o mal. Também vale a pena ler o artigo Regar a areia de António Barreto da edição de domingo.

Quando o "ranking" foi publicado pela primeira vez, escrevi para o jornal local o texto que se segue. Depois dessa primeira publicação, os resultados considerados para o "ranking" da escola em que trabalho foram piorando e a média desceu cerca de 1 valor. Não creio que a competência e o empenho dos docentes tenha baixado de nível, nem acredito que tenha havido alterações de monta em quaisquer aspectos. O que mudou? A resposta não pode ser dada pelo "ranking", mas é preciso reflectir sobre a escola. Lá isso.... Conseguiremos ter novas ideias em 2003?



Regresso ao trabalho. Regresso à escola.

Diversos jornais publicaram diversas listas seriando as escolas secundárias por alguma ordem ditada pela consideração de resultados no exames do 12º ano deste ou daquele conjunto de disciplinas, extraídos da globalidade dos dados divulgados pelo Ministério da Educação.

A divulgação de resultados, mesmo que em parte, de algum serviço público há-de servir sempre para fazer reflectir os profissionais desse serviço e os membros das comunidades que eles servem. Ainda mais quando os resultados são muito claros quanto a um profundo deslizamento para a negativa de resultados dos exames de alunos considerados aptos pelos professores que os acompanharam nos seus desempenhos em 3 anos da escolaridade secundária e depois de os terem submetido a provas globais em 2 anos.

Do ponto de vista geral, não se ficou a saber o que não se esperava. Os comentadores podem dizer o que diziam antes: há problemas graves no ensino secundário, há dois países, um do litoral e outro do interior, um de ricos e outro de pobres, e mais umas tantas coisas comparativas entre as escolas privadas e as públicas. Também se podem atribuir as culpas ao presente e ao passado das políticas, das legislaturas, das governações. Antigos governantes podem até fingir que o problema é dos actuais governantes, as instituições académicas dos diversos níveis de ensino, as comunidades académicas, científicas e profissionais podem acusar-se umas às outras de conspirações prejudiciais ao ensino, etc.

O que nós sabemos é que temos um problema difícil de resolver, que não estamos a conseguir resolver e que as escolas não vão resolver sozinhas. Mas convém dizer que não estamos pior que antigamente, no tempo em que o ensino secundário era só para alguns poucos. Estamos melhor, mas pouco melhor. Há muito mais gente nesta escola e é preciso mudá-la para obter resultados. Antigamente, só ia estudar quem tinha muito interesse nisso (interesse próprio, da família,…) e, mesmo entre esses, havia um relativo grande insucesso. As competências que as famílias e o estado atribuíam às escolas para garantir o sucesso escolar da elite era extremamente elevado, cedendo muito pouco à individualidade dos filhos estudantes e, antes, exigindo esforço, responsabilidade e disciplina (obediência, sem restrições) aos seus filhos perante a escola e o trabalho escolar.

Houve, entretanto, e a acompanhar a massificação da escola, uma revolução no que respeita ao acesso à informação e aos bens de consumo (também de cultura), aumentando brutalmente a confusão e a ideia da facilidade em ter o saber (e o sucesso também) mesmo sendo ignorante, iletrado, sem saber ler nem escrever. E gerações de pais ainda longe do saber escolar.

As escolas privadas não podem ser comparadas com as públicas, não só porque seleccionam os seus alunos, mas principalmente porque são seleccionados pelas famílias dos seus alunos no que isto significa de mandato pedido e meio estabelecido. A importância atribuída ao saber escolar e aos resultados dos exames resulta para as escolas privadas num enriquecimento do mandato e dos meios, num fortalecimento da hierarquia, num aumento de exigência consentido pelos pais, em disciplina, etc. Os alunos das escolas privadas têm mais horas de matemática, apoiadas nos professores, se for caso disso. Os pais querem, a escola dá, o aluno é obrigado a trabalhar essa hora de vida.

A única coisa espantosa nesta publicitação das listas é a fraqueza das médias das melhores escolas privadas e também de algumas das públicas (em que os utentes são classificados como muito perto do saber escolar, aquilo a que chamam a classe média e média alta). Profundamente preocupantes são os resultados das melhores escolas privadas.

Nas escolas públicas, a maioria das famílias não só quer pouco, como espera pouco e às vezes até impede que a escola faça o pouco que pode e tem de fazer (no cumprimento da lei que nos torna publicamente iguais). Basta ver os papéis assinados pelos pais e encarregados de educação para justificar o injustificável nos filhos, as explicações desculpabilizantes para os actos reprováveis das crianças e jovens, as complicações para conseguir aprovar uma hora mais de trabalho escolar quando tal é possível, … Pobre mandato, mais pobres meios tanto da parte do estado como das famílias..

Numa escola como a José Estêvão, a confiar no Público, entre as 20 melhores escolas públicas do país e a 37ª entre todas as escolas do país, o que é verdade é que temos um pequeno conjunto de alunos provenientes de famílias que dão elevada importância ao saber escolar e exigem dos seus filhos um desempenho elevado que permita o prosseguimento de estudos, como é natural numa cidade em desenvolvimento… E são estes que seguram as médias.

A situação não é boa. Há um elevado número dos nossos alunos que, em provas de exame, não correspondem aos resultados obtidos na frequência. Isso é preocupante. Temos de melhorar as escolas. E para isso temos de melhorar muito o envolvimento dos pais na escola e especialmente o empenhamento dos pais no sentido de incentivar a responsabilização, a disciplina, o esforço dos seus filhos.

Não temos soluções de um dia para o outro para um atraso de 20 anos ou mais. Sabemos que uma parte do problema só pode ser resolvido por um regresso ao trabalho, à disciplina, ao esforço, ao interesse, à responsabilidade. Mas isso vai ter de ser feito com exemplos a seguir. A escola ainda vai ser um exemplo a seguir. Para já, talvez precise de exemplos que possa seguir. Nenhum paleio a pode salvar.


(Out. 2001)

olá   arsélio

ainda às apalpadelas a ver se encontro a porta e chave, vou tentar entrar no teu lado esquerdo.
que pena não escreverem para ti -não sabem o que perdem.
eu detesto escrever em teclados, não me apetece emendar a gramática tonta da pressa nem de retirar as letras atrevidas que se me atravessAM NA ESCRITA.
OLHA, CRESCERAM!
se eu conseguir entender onde carregar para enviar este abraço, ele irá.
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prefiro soul darkness birds on the wire, essas belas tretas...

As árvores, as sementes



No Funchal, a Escola da Levada está rodeada de árvores. O vento soprou poucas vezes e mansinho. Mas mesmo assim, passaram por mim a voar algumas sementes voadoras. Algumas já eu conhecia de outros lugares. Novidade foi o que me parecia ser uma voadora bola de 4 folhas levíssima. Quando abri o embrulho voador, vejo um habitáculo para 3 sementes viajantes. Aqui ficam fotografadas sobre tampos de mesas da Escola da Levada. Os tampos de mesa das escolas são de materiais pobres. São belos os tampos pobres. Não são?

Em vez de ....

Hoje, em vez de colocar por aqui uma fotografia mal tirada por mim, recomendo uma volta por algumas fotografias do amigo murtoseiro Manuel Arcêncio que acontecem em Irraquéchato.

Depois deste gesto que vos leva até boas fotografias, fico mais aliviado e menos inibido para colocar algumas das minhas impressões (sem ter de pedir desculpa).