diário PósfMat

desenho do profmat

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Ranking

A opinião de Vital Moreira, no Público, - O "Ranking" do Ensino Secundário - é sensata. Também é sensato o que ele diz sobre o ensino público e o privado e sobre o que é a obrigação do Estado.

Acaba assim:



Um dos grandes equívocos que todos os anos se exploram é o dos melhores resultados das escolas privadas. Ora, o que se verifica é que as melhores escolas privadas são indubitavelmente os colégios selectos das elites económico-sociais situados em Lisboa, Porto e arredores (nada menos de 14 entre os primeiros 20 lugares da lista), sendo que o colégio de Vila Real que surge em primeiro lugar é pouco significativo, dado o número reduzido de alunos levados a exame. A alta qualidade delas - em geral muito dispendiosas para os beneficiários - tem a mesma explicação que a da excelente escola de Coimbra, a que acresce muitas vezes a selecção dos alunos, o que está vedado às escolas públicas. De resto, o que é a admirar nos seus resultados é que estes não sejam melhores do que são, pois se se retirar a referida escola de Vila Real, nenhuma delas atinge os 14 valores de média, o que não é propriamente famoso.

Para além dessas escolas, que constituem um grupo à parte, o panorama das demais escolas privadas não é melhor do que os das públicas, pelo contrário. Assim, entre as 100 escolas mais mal classificadas, contamos nada menos de 20 privadas (20 por cento), o que fica acima da quota de escolas privadas no ensino secundário, que é de 18,5 por cento (112 escolas num total de 608). Ou seja, as escolas privadas obtêm os melhores resultados mas também os piores. Ora essa grande assimetria - que é ainda maior do que nas escolas públicas - só pode dever-se aos mesmos factores que explicam a assimetria das escolas em geral, sejam elas públicas ou privadas. Uma escola privada na Pampilhosa da Serra faria muito melhor do que a referida escola pública? Por isso, o argumento da superioridade das escolas privadas, só por o serem, é uma grande mistificação. Há certamente muito que corrigir na escola pública, quanto à gestão, disciplina, rigor, autonomia e responsabilização, avaliação, etc. Mas a comparação entre escolas só poderá fazer-se em igualdade de circunstâncias, desde a composição do corpo discente à percentagem de alunos submetidos a exame nas disciplinas mais problemáticas (nomeadamente Matemática e Português).

Como seria de esperar, é também nestas alturas que aparecem os campeões do ensino privado a defender o financiamento público das escolas privadas, bem como a liberdade de escolha dos alunos, sempre em nome da liberdade de ensino. Trata-se de outra propositada confusão. Entre nós, é livre a criação de escolas privadas, cuja frequência é igualmente livre, sendo o seu ensino publicamente reconhecido. Mas o Estado não tem nenhum dever de financiar as escolas privadas, nem deve fazê-lo à custa do financiamento das escolas públicas, que são uma responsabilidade constitucional sua. Em Portugal, o ensino público é um direito, o ensino privado uma liberdade. O Estado tem de garantir a toda a gente a escola pública, plural, não confessional, em igualdade de circunstâncias. Quem preferir as escolas privadas, por razões confessionais ou outras (designadamente de prestígio social), não pode invocar um direito ao pagamento do Estado. O Estado também não tem de pagar por exemplo a quem, tendo direito a serviços públicos de saúde gratuitos, prefira uma clínica privada; ou a quem, tendo transportes públicos subsidiados pelo orçamento, prefira viajar em transportes particulares. O financiamento público das escolas privadas, para além de desviar recursos das escolas públicas, que bem precisam de ser melhoradas, e de ser financeiramente incomportável (dado que o Estado não poderia reduzir correspondentemente o financiamento das escolas públicas), traduzir-se-ia sobretudo em subsidiar um privilégio dos mais ricos.

enxames

Quando saí para a Covilhã, escrevi: "Vou até à Covilhã, fazer parte do enxame de professores de Matemática, ...".
Já lá, vi mais do que uma placa a indicar o caminho para enxames. Agora sei que ENXAMES é mesmo uma freguesia do concelho do Fundão com 631 eleitores inscritos.

agarrem-me

Estou a desenhar um risco

Alguns fazedores de opinião e cientistas sociais portugueses têm realizado um trabalho persistente de análise dos resultados dos exames do 12º ano, cuja edição deste ano acaba de ser publicada sob o habitual título de ?ranking?. Já conseguiram um facto educativo da maior importância que é a entrada da palavra ranking no vocabulário de todos os portugueses por mais mal educados que eles sejam. Vi e li dois: O ?ranking? expresso do ensino secundário, também chamado o novo quadro de honra, e o Ranking ?das 608 escolas secundárias, no Público. O Público declarou um colégio como a melhor escola do país com um total de 21 provas de 5 ou 6 estudantes. Há alguém que acredite que em qualquer das outras escolas de Vila Real, públicas com centenas de alunos, não se podem isolar 10 alunos cujas médias sejam superiores a 14, 7 (que é a tal média do Colégio da Boavista)? Deus meu! O melhor disto tudo é que professores, pais e estudantes acompanham os analistas e conseguem ver efeitos de mudanças em cada escola de um ano para outro. Mas quem acredita que houve mudanças nas escolas de Aveiro com influência nos resultados dos exames do 12º ano? Só tem interesse olhar para os resultados se for para melhorar o parque escolar e a escola conjunta da cidade.
Para que se perceba melhor as tolices que se dizem a partir dos rankings, aqui ficam alguns dados simples. Nos 3 últimos rankings do Expresso, a Escola José Estêvão ocupou as seguintes posições 43, 44, 53; a Homem Cristo ocupou os lugares 35, 49 e 114; a Mário Sacramento ocupou os lugares 278, 443 e 397, enquanto a Jaime Magalhães Lima passou pelos lugares 236, 161 e 213. Já nos rankings do Público, as coisas passam-se assim: José Estêvão ? 37, 83 e 111; Homem Cristo ? 82, 46 e 125. E pelo que consegui saber, neste ano, para o ranking do Público, a Mário Sacramento está na posição 471 enquanto a Jaime Magalhães Lima está na posição 297. (Todas atrás da excelência do colégio da Boavista) E já repararam nas variações de ranking para ranking ou de ano para ano? Acreditam que elas são espelho de algum sentido de mudança? De um ano para o outro, a única coisa que muda, mudando tudo, são os alunos que prestam provas de exame.

Estamos a piorar as médias. Embora tenhamos, em cada uma das escolas, um grupo de 10 ou mais examinandos que estão muito acima da média, estamos a piorar. E isso revela vários falhanços que vale a pena estudar: dos professores e das escolas, do sistema de explicações que gira em volta das escolas, dos estudantes.

Só me ensinaram a desenhar a tristeza. Não quero desenhar o ridículo que a tristeza carrega como cruz.


[o aveiro; 07/09/2004]

a gola da samarra

que contas tu ó pobre para um fado
em dó maior... do que uma algazarra
de cães que perseguem por todo o lado
o coelho que foi gola da tua samarra

quando a tua avó era viva e tu eras a criança
a querer ser padre da tua freguesia
quando fosses grande e não fugisses para a frança


ah! se tivesses crescido outro galo lhes cantaria

letra a letra

digam-me letra a letra a minha cruz
soletrem-me do calvário o caminho
à volta sem regresso

e esmaguem entrededos uma a uma cada luz
os pontos na espiral em que definho.


é só o que vos peço.

as linhas

quando desenhas as linhas
do meu desgosto

sei que a manhã desperta
as minhas mãos no teu rosto


se na minha face rugosa alinhas
os dedos do carvão que se desfaz
ao vento da janela aberta


chego de asas caídas onde tu já nem estás

Quando voltamos ...




... já somos outros. Mas não sabemos falar disso.
Voltamos ao mesmo? Porque não fizemos mais que várias meias voltas e não desatámos os nós da língua para que tudo ficasse na mesma? Sei lá.
SInto uma infinita piedade por mim mesmo. Os outros dedicam-me uma certa piedade compreensiva e não acredito em mais que isso. Nunca compreendo nem aceito o risco do meu tempo a seu tempo. É um sinal e um ferrete.

pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui