La forma del mondo


Se il mondo ha la sruttura del linguaggio
e il linguaggio ha la forma della mente
la mente con i suoi pieni e i suoi vuoti
è niente o quasi e non ci rassicura.

Cosi parlò papirio. Era già scuro
e pioveva. Mettiamoci al sicuro
disse e affrettò il passo senza accorgersi
che il suo era il linguaggio del delirio.



E. Montale; Diário, 1971

declaração de freguês

Há uns anos, defendi publicamente a importância da participação dos grupos de cidadãos unidos em volta dos problemas locais, para os quais se mostravam incompetentes os poderes locais eleitos na base da divisão por partidos e nas obediências a interesses que não são o que é melhor para as populações residentes numa freguesia ou num município. Pensava eu, e ainda penso, que nada pode impedir um grupo de cidadãos de participarem activamente, e com exercício do poder, nas decisões que afectam as suas comunidades. As divisões partidárias impedem muitas vezes que as competências se juntem em colectivos de consciências livres para a busca do bem comum.

Fui então mandatário de uma lista de independentes candidata à Assembleia de Freguesia da Glória. Não conhecia a maioria das pessoas nem as suas intenções. Pessoas conhecidas umas das outras, interessantes nas suas diversas ocupações e preocupações sociais, ensinaram-me parte da vida, ouvindo e conversando com elas como quem conversa com a Glória. Lamentável foi que o grupo não se tivesse mantido em volta do único eleito, já que este não precisou dos seus companheiros nem se mostrou interessado em prestar contas a eles ou à freguesia dos seus eleitores. Fiquei a saber que mais do que reunir pessoas é preciso reunir vontades fortes e vozes capazes para a fala, que não percam as cabeças para serem uma "cabeça de lista".

Aproxima-se uma nova campanha para eleições autárquicas e sou candidato a voz dos munícipes de Aveiro na Assembleia Municipal, pelo Bloco de Esquerda, depositando as minhas esperanças nos jovens das listas do Bloco. Não é possível atribuir-lhes mesquinhos interesses pessoais, nem têm esperanças estranhas. Temos a ideia que nada os move a não ser a defesa de um nova ideia de Aveiro, na Câmara e na Assembleia Municipal. Ingénua coragem?

Não há qualquer arrependimento sobre a minha passada participação como mandatário dos "Independentes à Glória".

Já vivia nesta casa há 4 anos. Hoje, como então, saio de casa para a rua e não posso atravessar. Do outro lado ainda não há passeio. A minha aventura mais perigosa deste ano? Foi tentar ir a pé ao Pavilhão das Feiras. Há alguma amargura nisto? Há.

Candidato contra tantas pequenas mas persistentes desgraças, registo cuidadosamente os dias de hoje. Quero ser parte nas soluções dos problemas de Aveiro. Só isso. E é muito.




[o aveiro; 1/9/2005]

Certeza


Tu és a erva e a terra, a direcção
quando alguém atravessa descalço
um campo lavrado.
Por ti pus o meu avental vermelho
e inclino-me agora nesta fonte
muda mergulhada no seio dos montes:
sei que de repente
- o meio-dia encher-se-á com os gritos
dos seus tintilhões -
o teu rosto brotará
no espelho sereno, junto ao meu.


A. Pozzi (Albano Martins)
de uma carta de J. C. Soares

a pintura do amador




Pinto sempre a mesma tela como se a tela fosse uma janela por onde deixasse espreitar-me em dias diferentes. Não como uma janela de dentro para fora em que há a essência da paisagem natural que se mantém. Antes como uma janela de fora para dentro, como se olhasse para dentro dos olhos, e em que não há um fundo. Há o que lá esteve antes de o subsittuir pelo presente. Um pensamento qualquer. Uma visão. Alguma coisa que o dia a seguir esconde com outra coisa. A minha pintura não é outra coisa senão um jogo. Às escondidas.
Pinto sempre a mesma tela. Um dia alguém a leva e recomeço noutra tela um novo jogo, o mesmo. Houve uma tela que se demorou por aqui tanto tempo que pude separar alguns pensamentos dos outros e um amigo meu levou uma parte que era só alguma tinta. Pensei nessa altura no inverno do pátio da casa de lavoura, quando tirávamos o mato podre (estrume humano, porque não dizê-lo?) e o refazíamos lá fora num canto da lagoachorida para ser viveiro das novidades da primavera seguinte.

À imagem de quem nos soterramos? Quando a minha neta deixa de se ver porque fecha os olhos para não ver, acha-se escondida para os outros. Eu fecho os olhos para não ver os outros, para os esconder de mim.

pombos, onde?




algoso.
agosto de 2005

pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui