sobre imaginar a vida

Uma vez por ano, um amigo traz uma garrafa de vinho e nozes colhidas em nogueiras de um lugar dele que eu não conheço. Em tempos, falei com ele sobre a luz coada pelas nogueiras, coisas da imaginação que acabei por nunca ver e por isso ainda é luz de um momento mágico.

Pelo meu lado, em cada ano, ofereço-lhe um livro que gosto de ver, mas não posso guardar. Este ano comprei um liivro enorme que não cabe em minha casa. Guardei o livro no carro, onde vou vê-lo às escondidas da minha família. Tomo todo o cuidado quando vou visitar o meu livro. Saio de carro e páro num lugar deserto. Tiro o livro do porta bagagens e deixo passar horas folheando o livro no banco de trás.
Se alguém espreitasse a minha leitura, estaria a oferecer um livro em segunda mão e isso nunca poderia aceitar.

há moelas?

O homem entra, batendo a porta. Senta-se a uma mesa, perto da porta. Sobre o silêncio que se instalou à sua entrada, ouve-se a voz forte do homem:
Já há moelas de coelho?
Ninguém responde. Passado o tempo preciso para nada ser resposta, em voz baixa, a todos, a dona do café diz:
Rua!

Saímos todos.

se pudermos apontar o dedo, podemos contar

Leio as notícias de Gaza. Contam-se os rockets, contam-se os bombardeiros, contam-se as casas abatidas, contam-se as vítimas. Perdi a conta aos assassinos? Ou não sei quem são? Talvez nem haja assassinos para contar. Ou talvez sejam incontáveis.

Se pudermos apontar a dedo, podemos contar.

shministim - do ano velho, por um ano novo

Em Israel, jovens com pouco menos de 20 anos são condenados a penas de prisão por se recusarem, enquanto objectores de consciência, a cumprir o serviço militar obrigatório.



A associação pacifista americana "Jewish Voice for Peace", que defende, entre outras causas, o entendimento pacífico entre judeus e árabes em Israel e na Palestina, está neste momento a dinamizar uma campanha de sensibilização mundial em que pede às autoridades israelitas a libertação de todos esses jovens shministim.

O site é o seguinte: http://december18th.org/

18 de Dezembro não foi o fim do processo, mas sim o início. Visitem e, se estiverem de acordo, assinem e divulguem a petição.



copiado da disciplina das argolas

Os shministim - importante não esquecer nunca e especialmente em dias destes

a fotografia

Ainda a família dorme, o homem sai. Entra no carro. Sentado ao volante, não sabe para onde ir. Devagar, o carro segue pela rua do bairro. Há um buraco mesmo no meio da rua. Embora hoje não o possa ver na rua inundada pelas chuvas da noite, ele sabe exactamente onde está o buraco. Hesita ao chegar e pára o carro na rua deserta. Se tivesse trazido a máquina, tirava agora a sua última fotografia.