em louvor do professor de direito, comentador que dá notas e candidato a presidente


Os olhos estão colados no infinito
enquanto a boca do professor e profeta
murmura uma oração de sapiência.

Se uma mosca bate as asas nas trombas de um mosquito,
um shhhh salta das bocas do público pateta
trnasformado em douta audiência.

O doutor acaba de grasnar: um importante 
facto cultural, um acontecimento
só visto! pela sua parabólica mais fantástica.

Então, o chefe de cerimónias, locutor e tratante,
abre a sua boca de jumento
para elogiar o desgarrado monólogo da bruxa asmática.

E pede ainda mais umas palavras que fechem
o discurso magistral
do doutor de direito e analista

Este cospe então as classificações que merecem
os donos da vida nacional
como quem distribui aos corvos, a merecida alpista.

Findas a análise e a previsão
que o discurso magistral condensa
vai o público em paz para a micha

E comungam entre si, após a dominical celebração,
o que ele disse  como sendo o que cada um pensa
assim como se houvesse pensamentos em bicha.


(Pretextos, 198x?)

as datas vistas pelos seus avessos

e se contássemos os  que foram assassinados
pelos fascistas,  pela direita deste rectângulo, 
antes do 25 de abril de 1974 e também depois
antes de contarmos os que a esquerda poderia


pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui