compreender a beleza
Ele sempre disse que o pior está por vir. Tanto podíamos acreditar como não acreditar. E eu habituei-me ao meio da ponte.
Ele sempre disse qualquer coisa. E nós, os outros, só tínhamos que o ouvir (e falar se disso fossemos capazes). Todos nos diziam isso mesmo. Mas não me lembro de som algum que tivéssemos produzido ou que, mesmo que vagamente, se ouvisse no cimo do monte onde acampámos à espera do inimigo que nunca chegou.
A beleza? Foi para aqui chamada e faltou. Não a compreendo.
nada me serve
havia o vigésimo quinto de abril e o primeiro de maio para me apagar,
mais um na multidão,
sendo parte do que não se pode apagar
por ser um dos que faz a multidão
não querendo ser visto só como mais um
sem desafinar as palavras de ordem com um toque de desordem
escolhia bem sempre sector diferente de manife para manife
pensando animar ao somar-me como desconhecido novo
até que um dia ao meu lado alguém disse mais um
não faz do finito o infinito
o que é verdade
vai e volta
eu quis encontrar-te num verso sem avesso
que fosse o teu e o meu regresso
ao canto da casa onde a voz se solta
uma vez e outra vai alegre e logo volta
até que me e te reconheço
que fosse o teu e o meu regresso
ao canto da casa onde a voz se solta
uma vez e outra vai alegre e logo volta
até que me e te reconheço
onde
amanhece
onde pelas paredes
te deitaste
para dormir
com as mãos medes
o que contaste
para me fazer rir.
onde pelas paredes
te deitaste
para dormir
com as mãos medes
o que contaste
para me fazer rir.
pela via dos outros
1.
Viemos pelas ruas de lama
até
aqui
chegados
pendurámos os casacos
no mesmo gancho
em que pendurámos
os passados
2.
Tínhamos tomado a forma
das pessoas
e seguíamos rigorosamente
a norma
de rotinas da outra gente
tal qual
como víamos.
Saíamos de casa
manhã cedo
e voltávamos imitando
até o medo
que não tínhamos.
3.
A pessoa mais popular
do bairro produzia sons
que desagradavam
a quem ao falar
docemente
dizia bom dia
como a cantar
hesitámos em imitar
em escolher os desagradáveis
mas populares
ou os que trauteavam bom dia senhor
até descobrirmos que havia
quem nada nos dizia
4.
Também fingíamos ler
os livros da biblioteca local
onde chegámos seguindo outros
até que alguém de tanto ler connosco
fez a pergunta natural
está a gostar?
ainda não aprenderamos
as perguntas sem resposta
e olhámos um para o outro
saindo ao mesmo tempo.
5.
O mesmo acontecia com o resto
das coisas que fazíamos
como os outros
faziam repetidamente
até pensarmos que isso era o normal
fazer.
E à medida que fomos ficando parecidos
com a outra gente do bairro
sossegámos e baixámos a guarda.
Afinal éramos como toda a gente
até deixarmos de saber quem éramos
ou quem somos
afinal.
o que ele dizia não devia ter sido escrito
Ela:
ele repetia um livro sobre a bondade e sobre a maldade
sobre a amizade sobre o ódio sobre o amor
e sobre a violência da paz contra a guerra
Vocês, os rapazes, só tinham que o ouvir falar se disso fossem capazes.
E todos vocês repetiam o que ele dizia
Só não me lembro de som algum que tivéssemos nós produzido
muito menos
que se ouvisse no cimo do monte onde acampámos junto à fonte
à espera do inimigo do amigo
que nunca mais chegou
esse dia nem ele.
ele repetia um livro sobre a bondade e sobre a maldade
sobre a amizade sobre o ódio sobre o amor
e sobre a violência da paz contra a guerra
Vocês, os rapazes, só tinham que o ouvir falar se disso fossem capazes.
E todos vocês repetiam o que ele dizia
Só não me lembro de som algum que tivéssemos nós produzido
muito menos
que se ouvisse no cimo do monte onde acampámos junto à fonte
à espera do inimigo do amigo
que nunca mais chegou
esse dia nem ele.
onde amanhece
amanhece
com as mãos medes
o que contaste
onde pelas paredes
te deitaste
para dormir
com as mãos medes
o que contaste
para me fazer rir.
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