a cultura


quando a cultura se debate
entre ser
qualquer coisa para vender
e ter
qualquer coisa para vender

eu rabisco cornos e asas
que nem se compram nem se vendem

nem por mim nem a ninguém

postal do pedagógico


eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que tem de haver uma razão para aceitarmos ser como somos quem somos sendo outros e estes mesmos nem mais ar nem mais fogo nem mais água nem

tem de haver uma razão para não querermos estar nas reuniões e tem de haver uma outra para sabermos que o tempo está a passar-se sem sermos atraiçoados por uma vida súbita que nos devolvesse o olhar a um outro lugar longe destes dedos vagabundos que deslizam por um postal no outro lado do frio glacial que aqui me faz gritar por me saber capaz de uma dor que não o é por já não sentir coisa alguma fora das palavras por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer que eu preciso de aprender a não dizer por dizer

A pista escandinava

Não há muito tempo escrevi eu acerca do meu desejo de ser professor escandinavo (finlandês, mais precisamente) a propósito de afirmações mais ou menos a despropósito de Jorge Sampaio. Dizia ele que os professores finlandeses passavam 50 horas na escola e, apesar disso ou por isso mesmo, eu queria ser finlandês. Uns pensaram que eu queria mudar de presidente, outros que eu precisava de arrefecer e houve mesmo quem pensasse que eu só queria mudar para um país onde se podia viver sem governo. Estávamos então no princípio da campanha malévola contra a função pública, em geral, e os professores das escolas públicas, em particular. O jornal diário fez-se caixa de eco destas declarações, sem comentários a favor da verdade. Em 11 de Setembro, quando as aulas estavam a começar em Portugal, na revista que acompanha a edição dominical do Público, aparece uma reportagem sobre as escolas da Finlândia. Há alguma deambulação interessante pela vida de alunos e de escolas. Numa caixa destacada, sob o título ?Sistema?, lá se pode ler que os professores (finlandeses) "têm cerca de 35 horas lectivas semanais e a preparação das aulas é feita em casa, em horas não laborais". Na revista do domingo seguinte, é publicada a carta de um leitor a desmentir e desmontar a informação e a repórter viajante publica um minúsculo pedido de desculpas e fala de um mal entendido (????) sobre o assunto. Nunca poderei provar que o meu jornal diário fez algum trabalho sujo para ajudar a desacreditar os professores no tempo em que o governo estava a tomar medidas (duvidosas e de cobertura para outros voos) sobre os horários de trabalho nas escolas públicas. Que miem os gatos escondidos se eu estiver a pisar-lhes os rabos que vejo.

E é altura de voltar à pista escandinava. Os nossos jornais que tanto abusaram da inspiração na musa escandinava para as escolas podem agora verificar que, se há arguidos entre os políticos nacionais, regionais ou locais escandinavos, a ninguém passa pela cabeça que suspeitos e arguidos possam apresentar-se como candidatos. Por cá, dezenas de arguidos por acções ligadas ao desempenho de cargos públicos estão a candidatar-se a cargos públicos, obtendo o favor de todos os jornais para publicitar as suas actuações mais ou menos à margem das leis e dos bons costumes.

Espalhemos o exemplo escandinavo! Então? Vamos lá a isso! E agora nem é preciso mentir!



[o aveiro;29/09/2005]

Pájaros

Pájaros. Atraviesan lluvias y países en el error de los imanes y los vientos, pájaros que volaban entre la ira y la luz.

Vuelven incompreensibles bajo leys de vértigo y olvido.




Ainda.Gamoneda

desenho, logo existe



no papel manteigueiro

irmandade das almas - VII

Irmãos! Não quero ser poeta, mas tanto tanto queria tornar reais os sonhos e dar satisfação aos desejos mais profundos que me animaram e animam! Não tenho a arte do poeta para fazer virar real o que o não é, o futuro radioso que prevejo para lá do futuro que vejo! Que homens somos nós? Que poetas somos? De todos os temas em estudo, auele que me apaixona é este da natureza do militante ligado às questões do aparelho teórico marxista-leninista, à concepção de partido, ... Que forja é o partido?
Levantou-se, enquanrto falava, o irmão Ulisses. [Exaltava-o a ideia de que estava preso, retido, apesar dos seus queixumes, pela filha de Atlas que não cessa de o seduzir com palavras doces e lisongieras para que ele se esqueça de Ítaca, da vida distinta da vida dos deuses.]
Não sei se me entendem, mas reputo esta questão de muito importante para irmãos do nosso tipo! - reclamou Ulisses, olhando de soslaio para o irmão Foz do Riacho, que até aí se tinha mantido sem qualquer marulho. Marulhou então, de acordo, e citou Bob Dylan, cantarolando em relação aos temas da situação nacional e internacional sobre o que se podia fazer:
Os grandes livros foram escritos/ os grandes ditos foram ditos/ e eu só quero pintar um quadro/ do que acontece por aqui de vez em quando/ ainda que não entenda bem o que se passa/ sei que morreremos algum dia, e que nenhuma morte deterá o mundo. E fehou a comporta.
Marta D. saíu. Saíram. Sem saber se de casa, se da casca. A escuridão tinha tomado conta da cidade. Um poeta pintava janelas iluminadas. Quando os irmãos acordaram havia frio em todas as direcções. E desjearam o conforto do partido.

As ruas encheram-se de ecos de passos dos automóveis partindo.

praça dos leões