volto sempre

Volto sempre a este lugar
à casa habitada pelos fantasmas
que vivem como amigos comigo
e para mim cantam em falsete

sonetos de amor e esperança
humana frágil e ridícula
como voz que mastiga as neblinas
o próprio bocejo dos fantasmas.


Por saber que me usam e deitam
fora como um lenço roto
para o cesto da roupa suja

enquanto alguma vida ainda resta
guardo fiapos de vozes das aves
no sem-fim da tardinha deste lugar.

e se puderes(...)

1.

e se puderes esconde-te numa aldeia onde
ninguém te encontre e em teu nome
manda uma carta de chamada
para onde andas perdido

lembra-te de mandar garantias
um contrato de trabalho sei lá

um grão de terra lavrada ou
uma gota de água das chuvas
e uma acha de cheiros que se desfaça em fumo

2.

para que passes na fronteira onde
os serviços de imigração farão de tudo
até que aceites voltar atrás aonde te perdes

se puderes manda a fotografia da parede
em que estás pintado como uma sombra de ti


3.

ainda melhor será se puderes esconder-te de ti
até que ninguém se lembre do teu nome

e até mesmo tu não saibas virar a cabeça
quando alguém pensar ter-te visto

por engano só pode ser engano

a fronteira é tão longe de tudo
como podias tu ter ido parar tão longe de ti

a limpar as mãos a um avental de ferreiro

cego credo pode lá ser!

nunca digas

(...) nunca digas a última palavra.

a escola não é tudo

O filme dos acontecimentos de uma aula na Escola Carolina Michaelis do Porto voltou a chamar a atenção para o que se pode passar no interior das escolas, para o que pode passar-se dentro de quaisquer portas onde há papéis e apostas de domínio.
O filme mostra-nos uma jovem descontrolada a tentar recuperar um aparelho de uso comum usado como perturbação numa sessão de trabalho marcada num certo horário. O filme mostra-nos uma pequena turba de jovens a transformar a aula perturbada num espectáculo a ser mostrado. Há um telemóvel a perturbar uma jovem e uma aula para que um outro telemóvel, projéctil lançado por um delinquente, perturbe a sociedade inteira. É um espectáculo de pessoas-coisas tão degradante como muitos outros, como todos aqueles que foram transformando vidinhas rascas em espectáculos rascas para grandes audiências rascas. Todos os dias, as televisões dizem, pelo exemplo, aos jovens daquele pobre espectáculo, que há pessoas que perecem se não aparecem nas margens da ribalta para onde dão os esgotos de um submundo de sordidez .

Para que o filme aconteça, é preciso que um professor (ou um pai, ou uma mãe) se perca no território da sala de aula e lhe sejam vedadas as portas por onde entraria a instituição da escola inteira.

O espectáculo que se segue é o filme do que não se pode ver e é mostrado a todas as horas em todos os canais, fingindo agora que os personagens não têm cara e que o novo espectáculo é discutir formas de não repetir um espectáculo destes.

Todos sabemos que estamos perante um distúrbio excepcional, mas que distúrbios destes se repetem e provavelmente cada vez com mais frequência na sociedade, em geral, e na escola, em particular. De tal modo assim é que o Procurador Geral da República entendeu por bem inscrever nos seus planos de hoje como uma das suas preocupações com vista ao futuro. Queiramos ou não, estes jovens que não reconhecem as diversas instâncias de autoridade, a começar pelos adultos - pais e professores - que lhes são próximos, ameaçam o futuro com o seu presente de perdedores tão mais radicais quanto é certo que gritam vitória a cada exposição pública dos seus distúrbios rascas.

E é preciso ter consciência que há um problema de papéis. As escolas e os professores podem cuidar de dirigir o ensino e a aprendizagem para o bem colectivo e enquadrar parte das acções e incidentes até um certo nível de estranheza. E devem reconhecer os casos para os quais são incompetentes para os acompanhar até à porta de outros sistemas sociais: de apoio, se o problema é de pobreza; penal, se o problema é delinquência; de saúde, se o problema é doença (mental, também!), etc.

A escola não é tudo. Isso não é um problema. Reconhecer isso é uma parte da solução dos problemas da escola.


[o aveiro; 27/03/2008]

o porto ... de gaia

a descer

atractor

Muitos aspectos da actividade lectiva de hoje podem ser melhorados pelo recurso a computadores e telecomunicações. Se é certo que cada vez há mais computadores pessoais nas escolas, resta determinar que indicações se podem dar aos jovens para os usar com vantagem e resolver a questão de saber que recursos podem ser utilizados pelos professores das escolas com pequenos orçamentos. Isso só pode levar os professores a estudar para abordagens mais potentes e a procurar “software” livre de encargos.
Para o ensino de Matemática, há ferramentas gratuitas para apoiar todos e cada um dos temas de ensino, a partir dos quais podemos preparar actividades que não só permitem introduzir os conceitos e técnicas, como permitem que os jovens aprendam a utilizar computadores com vantagem para as suas necessidades de estudantes. Se é claro que os computadores não podem substituir o estudo e o trabalho necessários, de papel e lápis, o seu uso pode multiplicar as experiências matemáticas significativas dos jovens, criando novas oportunidades para conjecturar com segurança e, pelo recurso à mesma escrita (de papel e lápis) obter um imenso manancial de experiências que o cálculo automático pode propiciar. Usado de forma inteligente, o computador permite ao estudante confirmar com uma grande variedade de exemplos a matemática que lhe é dada e pedida em novas aplicações. Muitas das aprendizagens antes feitas por imitação e mergulhadas em subentendidos, são agora ampliadas por exigências de compreensão real e crítica, já que a tecnologia exige sempre a explicitação de cada relação e uma escrita sem ambiguidades.
A comunidade académica e científica tem produzido uma multiplicidade de modelos informáticos muito dinâmicos para divulgar e tornar acessíveis muitos temas que até agora eram de difícil aproximação Os estudantes podem manipular parâmetros ou posições de elementos de figuras que esclarecem rapidamente resultados, confirmando ou infirmando informações que se transmitem.

De resto, prontos a usar podemos encontrar muitos materiais que podem suportar actividades complexas em ambiente de sala de aula ou em plataformas a que os estudantes podem aceder a partir dos computadores pessoais. Entre todas as realizações, destacamos o Atractor, da Associação Atractor dirigida por Manuel Arala Chaves, e em que participam, como associadas, departamentos, faculdades ou universidades, a Associação de Professores de Matemática e a Sociedade Portuguesa de Matemática. O trabalho realizado está patente em módulos expostos no Pavilhão do Conhecimento Ciência Viva e outros locais, que podem ser revisitados no “site” do projecto.
Qualquer discussão sobre o uso de computadores no ensino ou sobre o recurso a experimentação para ampliar a compreensão de conceitos matemáticos tem de passar pela referência portuguesa que o Atractor é. Não é legítimo esperar que as escolas possam (ou sequer devam) construir materiais do nível dos produzidos para os grandes espaços, mas é legítimo esperar que os professores nas escolas reconheçam nessas exposições a possibilidade de enriquecimento do ensino e das aprendizagens. Do mesmo modo, é óbvio que ninguém espera que os professores produzam módulos, com recurso a ferramentas computacionais, ao nível dos que são produzidos e disponiblizados na rede pela Associação Atractor.
Sabemos que, para serem utilizados em sala de aula ou como materiais de apoio, os materiais produzidos pelo Atractor precisam de ser estudados e trabalhados pelos professores do ensino não superior e precisam de ser objecto de escolhas criteriosas, de modo a serem usados de forma adequada e não servirem, todos e cada um deles, como motivo para não abordar, por falta de tempo, os temas dos programas oficiais. À semelhança da gestão que tem de ser feita do programa e dos manuais adoptados pelas escolas, é preciso escolher e adaptar os materiais do Atractor. O Atractor funciona como uma ferramenta potente para o trabalho do professor, alerta para os assuntos e apoio no seu estudo, pode e deve ser aconselhado para os estudantes e público em geral, sendo certo que cada professor tem de escolher e tornar claro qual a utilização possível em sala de aula para a generalidade dos estudantes.
A Associação Atractor é um projecto generoso. Muitos materiais podem ser descarregados facilmente para os computadores dos professores e podem ser incorporados em módulos definidos e decididos por cada professor de forma adaptada às suas aulas e ao trabalhos dos estudantes de cada turma.
É tão necessário apoiar o desenvolvimento do Atractor, como apoiar os professores no trabalho de adaptação que é preciso fazer para dar aulas com o Atractor.

[a página de educação; Abril 2008]

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pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui