aqui nesta soleira de luz

senta-te meu amor aqui nesta soleira
e deixa que luz grave na palma da minha mão
de  ti uma imagem que sejas tu na escuridão

que não saiba eu se é tua a ausência ou minha a cegueira

más caras

os ministros

à ordem de fogo os ministros do meu país
já não soletram o costume dos disparates:
disparam  da sua ordem mais unida rajadas  de dislates
em sequências de porcaria  pelos canos serrados do nariz.

a vida inteira

a vida inteira
fora eu a esperar-te
em carne viva numa esquina de ruas
como uma carícia aérea  fossem só tuas
a ternura  e a febre de olhar-te
a vida inteira
estendesses a mão até quase tocar-me
sem te afastares mais que um dedo
para que a tua vida virasse o segredo
da ansiedade do teu olhar a desejar-me
a vida inteira
fosse só o instante mais que perfeito
que se recordasse mesmo no imperfeito
a vida inteira

pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui