o tacto

os pratos.

o ar já foi distribuído pelos pratos
vê-se que está quente pelo vapor que se solta dos pratos
e da terrina

ainda não sorvemos o ar da sopa e já se desvelam outros pratos rasos de lágrimas

aqui não deixamos os poetas morrer
com falta de ar que se come e se bebe

já o ar de respirar nem para assunto de conversa é chamado.



as caçoilas.

na azáfama com as mãos embrulhadas no avental a mulher carrega
as grandes travessas de ir ao forno cheias dos restos das palavras
pelo fogo tatuados no ar suspenso
enquanto uma lágrima se solta ao canto do olho que vê nas cinzas a forma do poeta

a mesma forma marcada na cama como uma pegada de vento

aqui não deixamos os poetas apodrecer e sentados à mesa começamos a nossa oração
pela frase lapidar se havia de ser para a terra o comer...


o álcool e o fumo.

ele escreveu em cada um dos seus livros ardentes
que as refeições de despedida devem ser seladas pelo silêncio
da aguardente forte e do charuto que ele reservara para a despedida
assim ela se apresentasse

e caso ela não fumasse que alguém o fumasse.

Sem comentários:

pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui