estava pendurada em si…mesma

Alberto Caeiro escolhido agora

O meu olhar é nítido como um girassol
TEnho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás……
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar or isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Portque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza, não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Poema
de ALBERTO CAEIRO

Cartilha Trágica

Disseram-me os homens
Que o mundo está em guerra.
E eu fiquei riste.
Fiquei triste, porque é o homem.
Quem faz as guerras,
E eu sou homem
E sei por que razão
A guerra existe.

O jornal dos homens
Fala sempre em guerra,
E a tinta do jornal
Grita mais do que os homens
Que o lêem descansados
Ao seráo,
Chinelos calçados,
Cigarro na mão.

Os filhos dos homens
Brincam com armas
E atiram com torrões de terra.
E eu tenho a impresão
Que aprendem a lição
De uma futura guerra.

Infância, pureza e inocência,
Em ensaios de discórdia
E de demência

Arcos/12/1964

Gritos de Pedra, Nurmi Rocha
Município de Arcos de Valdevez, 201212

nunca saberei o que sei lapidar ... a lápis

encontrei-te não por seres folha mas folheando


ele e o seu animal em bolha desgraçada

da tirania (a partir agora um caderno de setembro de 2004)

da juventude

não me digas que as comeste
porque ninguém,
nem a tua mãe,
te tinha dito que as lâminas
de barbear não se comem?

como se não houvesse paixão
no rato de biblioteca


quando passeia pelo buracão
de entre livros uma e outra seca
de cozer em lume brando
quando o poema já escrito
numa mesma e sempre nova até quando
vezes sem conta só finado pelo grito


que os poemas são citações
ditadas para laboratórios
onde não entram emoções

se já não há tuberculose nem sanatórios!?
!?!
?!±