O estado de excepção de Cavaco

Logo que foram conhecidos os resultados eleitorais (ou parte deles), sem esperar pelos resultados oficiais do sufrágio e sem sentir necessidade de ouvir sequer os partidos com assento parlamentar como é das normas, Cavaco indigita informalmente (só pode ser) Passos Coelho para formar governo. Eficácia, dizem uns. Desrespeito pelo Parlamento, dizem outros.
Está bem acompanhado Cavaco. Os comentadores de serviço a regimes de excepção reagiram céleres a inquietações sobre a constitucionalidade de actos e medidas previstas no programa de resgate que os três partidos do arco do poder assinaram.  Sem se preocuparem com a constituição que como seu garante  foi eleito o presidente da república e os eleitos dos partidos para governarem de acordo com ela, sendo que todos eles juram respeitar  a constituição nas suas tomadas de posse.
Acrescentam nos seus comentários que será inaceitável que se use a constituição como impedimento ao cumprimento dos prazos previstos para as medidas a tomar impostas ao arrepio das normas constitucionais do país de tão devotos patriotas e democratas. Alguns deles já foram alertando o tribunal constitucional para que não se torne num empecilho ao supremo desígnio do resgate para salvação das almas portuguesas. E desenterraram um clima excepcional (muito calor, muito frio, muito dinheiro) e  tempos de excepção para suportar eventual desrespeito da constituição. Procuram-se argumentos a favor do estado de excepção.
Cavaco faz-se  presidente de um estado excepcional. Quantas mais excepções serão abertas neste caldo dos governos presididos por jotas e janotas? Sempre aceitaremos interromper a democracia por 6 meses para pôr ordem nisto. Os jotas não se lembram de anteriores interrupções. Mas ainda  vive quem se lembre.

A última vitória de Cavaco

Cavaco não é o presidente de todos os portugueses. Sabendo bem que, em economia e finanças, nunca há um só caminho e que, mesmo entre os economistas e financeiros não vinga a tese de uma estrada real para escolher modelos de saída da crise, Cavaco não hesitou em indicar como opção da república um dos caminhos e logo uma causa de governação e o leque das figuras de governo. Mais: não hesitou em contaminar processos de eleição em curso com as insinuações da tragédia de futuros salários em atraso, o que foi acrescentar medo ao medo da ignorância ampliado pelo problema de ter sido governante e ser presidente de uma república europeia em que são admitidas práticas de salários em atraso sem culpa e sem castigo, e práticas abusivas de precariedade dos vínculos laborais e respectivas remunerações. Curtos prazos para o medo, condicionando ou marginalizando todas as opções diferentes das suas. Temos um financeiro, rodeado de financeiros, capaz de jogos financeiros e capaz de viver com a miséria dos trabalhadores sem o salário equivalente mau da produção já realizada e até mesmo já retribuída em transferências de valor e capaz de lhes lembrar que pode conviver com situações piores do seu povo. A sua acção, a merecer concretização célere pelos seus - PS, PSD, CDS e outros figurões detentores de poder económico ou simplesmente financeiro, ficará marcada não por conhecermos o seu sentido de voto, mas por ter feito do seu voto uma arma apontada a quem tem modelo diferente do seu. Portugal é uma nação que parece amarrada a financeiros (que lembrança a minha!).
Por último, vale a pena referir que, além da indicação de sentido de voto (só não foi capaz do partido único e se contentou com uma coligação tripartida), transformou-se no primeiro presidente a retirar o direito à crítica cívica aos que não foram às urnas neste seu plebiscito. Na nossa democracia, ainda há quem se considere presidente de todos os portugueses baseado numa fé de pai que quer o melhor para o seu povo e que se acha no direito de condicionar a decisão livre dos outros seus concidadãos. Mesmo sendo pouco crente em autorizações divinatórias, quaisquer que elas sejam, sempre vou lembrando que o futuro a deus pertence e que Cavaco está longe de (ser) deus e é agora seguramente presidente de uma parte dos cidadãos de uma pequena república da Europa,  temente dos sentimentos dos mercados financeiros. Pouco valor atribui às pessoas.... essas que são sensíveis e que ainda lhe retribuem votos até perceberem que merece, para além da reforma... algo mais que sentimentos. Os meus sentimentos aqui ficam. Não lhes atribuo qualquer valor de mercado. Sei que os sentimentos de Cavaco têm valor nos mercados, ao contrário dos meus.

a 5 de junho....

... vencem os que nos troikatrilham...
... enquanto outros recomeçam combates de sempre, como sempre.

manifesto eleitoral

perguntam-me que vou fazer quando me reformar.
posso responder a isso.
tenho muitas coisas ainda por fazer que sempre fui adiando e talvez já não possa fazer porque nunca tomei notas e esqueci-me de muitas palavras que me ficaram atravessadas na garganta e nunca foram ditas e muito menos escritas e
a) posso voltar a estudar matemática básica com disciplina e afinco.
b) posso ler poesia com disciplina e afinco.
c) posso ler romances com disciplina e afinco.
d) posso escrever algumas frases de que me lembre.

e) e posso desenhar.

para isso preciso de tempo e
para tudo isso e para tomar banho concertei as mãos gastas a arranhar as paredes possíveis e a trepar paredes erguidas a pique contra mim muitas destas por mim erguidas.

desenhar o desnecessário sentido

desenhar um monte de

olhaste para ela e viste o quê?

daqui a pouco é noite

daqui a pouco é noite e acendem-se as luzes da fogueira
para  encher praças de assombrações e máscaras confiantes

que dançam na alegria dos comícios das festas manifestantes
contra a ganância mais podre mais cruel e carniceira

daqui a pouco é noite antes das avisadas noites que virão
adivinhadas arrogâncias de catedrais que não descansam

nem esquecem a arte das fogueiras de sombras que dançam
num fragor de derrocada do altar  proclamada como sermão

daqui a pouco é noite nós cá estamos despertados moribundos
não se esqueçam de nós que vos passámos pelas penas do perdão

ai como sempre se esqueceram de nós nas casas dos fundos
nós contamos as canções mudas do pavor na vossa ressurreição

daqui a pouco é noite ainda vamos a tempo esperem um pouco
ainda sobra um alento ainda sopra o vento num verso rouco

ainda há gente a gritar ainda há gente a rir ainda há gente ainda
que forma a frente a unida frente que vos faz frente e nunca finda

daqui a pouco é a noite que à luz do dia é ainda  a mais linda.

a cidade onde

desenho, logo existo

to BE or not to BE...

... to BE!

Votar contra os que nos odem

Dou por mim a pensar no passado que conheço
E sem fazer profecia alguma que isso não vem ao caso
Levanto-me do chão de vespas em que amanheço
Para me coçar onde me mordem as virtudes um pouco ao acaso

E para me lembrar em cada dia que rápido passa
De ladrões e quadrilhas que me roubam sono e vida
Sem haver prisão que os detenha e como isso é desgraça
Fazer votos e dar voto que seja lenço e desejo de despedida

Ajudando assim a minha gente mesmo que ela seja insensata
E medrosa e crente na eterna demissão face aos que tudo podem
Vou votar com pontaria afiada que mesmo uma pistola de lata
Pode ser a melhor arma de dignidade contra os que tudo odem

pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui