O estado de excepção de Cavaco

Logo que foram conhecidos os resultados eleitorais (ou parte deles), sem esperar pelos resultados oficiais do sufrágio e sem sentir necessidade de ouvir sequer os partidos com assento parlamentar como é das normas, Cavaco indigita informalmente (só pode ser) Passos Coelho para formar governo. Eficácia, dizem uns. Desrespeito pelo Parlamento, dizem outros.
Está bem acompanhado Cavaco. Os comentadores de serviço a regimes de excepção reagiram céleres a inquietações sobre a constitucionalidade de actos e medidas previstas no programa de resgate que os três partidos do arco do poder assinaram.  Sem se preocuparem com a constituição que como seu garante  foi eleito o presidente da república e os eleitos dos partidos para governarem de acordo com ela, sendo que todos eles juram respeitar  a constituição nas suas tomadas de posse.
Acrescentam nos seus comentários que será inaceitável que se use a constituição como impedimento ao cumprimento dos prazos previstos para as medidas a tomar impostas ao arrepio das normas constitucionais do país de tão devotos patriotas e democratas. Alguns deles já foram alertando o tribunal constitucional para que não se torne num empecilho ao supremo desígnio do resgate para salvação das almas portuguesas. E desenterraram um clima excepcional (muito calor, muito frio, muito dinheiro) e  tempos de excepção para suportar eventual desrespeito da constituição. Procuram-se argumentos a favor do estado de excepção.
Cavaco faz-se  presidente de um estado excepcional. Quantas mais excepções serão abertas neste caldo dos governos presididos por jotas e janotas? Sempre aceitaremos interromper a democracia por 6 meses para pôr ordem nisto. Os jotas não se lembram de anteriores interrupções. Mas ainda  vive quem se lembre.

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