exames... de consciência

Como passar estes dias sem falar de exames? Há exames. E todos nos afadigamos em dizer que isto vai mal. Os exames vão mal. Os alunos têm melhores resultados? Isso é mau: os exames são fáceis demais. Os alunos têm maus resultados? Isso é mau, mas não são os exames que são mais difíceis, o que acontece é que são maus os ministros, os programas, as escolas ou os professores em geral. Como passar no exame destes dias?
Os exames são mais fáceis? São mais difíceis? São diferentes? São iguais? São tudo isso, devemos dizer em abono da verdade. E há quem diga cada uma das coisas, com toda a razão cada um dos que fala quando compara com alguma coisa que tem na cabeça e que os outros não conhecem.
Hoje em dia, os exames são mais acessíveis? São, de facto são. Desde há um bom par de anos que se tem vindo (finalmente!) a publicar as perguntas que se fazem e se podem fazer sobre os programas e até mesmo as respostas que se esperam. Para esperar o quê? Que os alunos tenham piores resultados? É mau que os alunos saibam que tipo de perguntas se podem e devem fazer no fim de um ciclo de escolaridade? Não, não é. É mau que muitos alunos percebam que as questões que lhes podem ser postas são acessíveis no sentido que procuram que eles mostrem se estudaram e compreenderam o que de essencial se espera deles? Mais transparência do sistema dá mais confiança, e, com mais tempo para pensar, preparar e escrever as respostas não é natural que tenhamos melhores resultados?
Assim é, mas nada nos permite diminuir e espalhar a crença que melhores resultados do trabalho actual só podem ser uma fraude. Uns serão...

Criticáveis são, certamente, políticas e medidas no sistema educativo dos últimos anos. Também dos responsáveis pelos exames.
Quem havia de se lembrar de um motivo para louvar os últimos governos tão diferentes em partidos e em partidas que nos pregam? Eu. Que fizeram eles de bom? Mantiveram uma organização com autonomia - o GAVE - a dirigir a concepção e elaboração de provas de exame, de testes intermédios, de publicações de perguntas e respostas. A todos eles, muito obrigado por esse pequeno nada que é afinal o tudo nada que fez alguma diferença.

Se temos de aumentar a exigência sobre os sistemas, exigindo ao mesmo tempo cada vez mais dos jovens, dos professores, das escolas? Claro, sempre! Como se faz isso? Exigindo. O que é que isso poderá ter a ver com a palavra fácil? Nada.


[o aveiro; 26/06/2008]

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá,

torna-se extremamente difícil contrariar o que quer que seja exposto pelo
Arsélio, pois além de lhe reconhecermos bastante trabalho e dedicação à
causa, o Arsélio (na minha opinião) ultimamente escreve de forma
"interrogativa" e dando "razão" a todos. Talvez o Arsélio esteja naquela fase
em que "o pensamento" se sobrepõe à "acção", ou melhor ainda "o pensamento
vem muito antes da acção".

Eu como ainda estou na fase do "agir enquanto penso ou pensar enquanto ajo",
aqui vai a minha opinião.

Concordo com muitas coisas que o Arsélio afirma mas não concordo com muitas
outras coisas que o Arsélio afirma!!!

Vejamos algumas afirmação do Arsélio, por exemplo:

"Hoje em dia, os exames são mais acessíveis? São, de facto são."

concordo perfeitamente com a questão/afirmação, e até sou capaz de concordar
que talvez o devam ser, embora não exageradamente fáceis.
A questão que se levanta é, se são mais fáceis é legitimo comparar
resultados destes exames com os dos anos anteriores? É legítimo fazer
bandeira de sucesso com os resultados? É legítimo afirmar-se que os nossos
alunos, agora, sabem mais?
Na minha opinião, claro que não!!!

Considero que os pais e a sociedade em geral devem saber a verdade, e a verdade
é que os exames são mais fáceis, e que os professores continuam a trabalhar
da mesma forma empenhada na aprendizagem dos alunos, às vezes com mais
condições às vezes com menos condições, mas sempre empenhados na
aprendizagem/sucesso dos seus alunos que sempre reconheceram como sendo o seu
próprio sucesso.

É claro que sempre existirão excepções e sempre existirão. Mas não aceito
que se afirme que o sucesso resulte de novas e milagrosas medidas educativas!!!
Algumas ajudam outras prejudicam.

"a publicar as perguntas que se fazem e se podem fazer sobre os programas e até
mesmo as respostas que se esperam" (Arsélio)

Cuidado, podemos estar a preparar alunos para questões tipificadas e resposta
por medida!!! É isso que eles enfrentarão na sua vida profissional ou mesmo
na sua longa espera, com aprendizagens constantes, pelo início de uma vida
profissional? Não, na vida as questões/problemas não são tipificadas, e
muito menos as respostas!

Por isso é importante trabalhar o raciocínio, trabalhar a compreensão,
trabalhar a comunicação, ..., e é necessário encontrar uma forma destas
competências serem valorizadas pelos alunos, pelos pais, pela sociedade e por
ainda um número significativo de professores (de Matemática e não só).

E sabemos muito bem o que, na minha opinião erradamente, "orienta" o pensamento
destes agentes educativos quanto ao que se deve aprender e ensinar. Com certeza
que cada um de nós já foi confrontado com algo do género "Óh professor se
não sai no exame para que interessa perder tempo com isso!" ou em casos
extremos "Sr Director de Turma venho pedir-lhe que fala com o professor X para
que ele não perca tempo nas aulas com coisas que não saem em Exame. Eu quero
é que o meu filho esteja bem preparado para o Exame e não que ela saiba
comunicar!".

A tutela tem algumas (diria muitas) responsabilidades quando começa a comparar
resultados de avaliações externas com resultados de avaliações internas,
quando informa toda a sociedade (na TV, claro!), como que "estamos atentos e
estamos cá para «puxar» as orelhas aos srs professores", que enviar um
relatório por escola e por professor sobre os resultados das avaliações
externas.

Em vez disto deveriam era tornar público que é tanto ou mais importante as
avaliações internas do que as avaliações externas. Deviam era dar
credibilidade ao trabalho realizado pelos professores, nas escolas, com os
alunos. Deviam fazer ouvir a voz dos professores, mas daqueles que estão no
terreno, daqueles que enfrentam as dificuldades, daqueles que são anónimos, e
não dos que estão no pedestal e vivem num mundo à parte.

Diz ainda o Arsélio "Mantiveram uma organização com autonomia - o GAVE - a
dirigir a concepção e elaboração de provas de exame, de testes
intermédios, de publicações de perguntas e respostas."

Será Arsélio???
Se assim é, gostava de saber quem é o superior hierárquico do director do
GAVE? Porque razão e por quem foi demitida/exonerada/demitiu (o que quiserem)
a anterior directora do GAVE?
Foi o GAVE autonomamente que decidiu diminuir (é quase consensual, excepto a
Sra. Ministra não parece concordar) o grau de dificuldade dos exames
nacionais? Porquê que o fez? Com base em que estudos educativos e/ou
relatórios?

Muito há por explicar, mas muito mais ainda há por assumir publicamente, e
isso era o mínimo que poderiam fazer em respeito pelos professores e alunos
que ainda acreditam no valor do empenho, da aprendizagem e do mérito (este
último termo tão mal usado nos últimos tempos na educação).

Pronto, agi e pensei ao mesmo tempo!!!

Um abraço

Eduardo Cunha

adealmeida disse...

recomendo:

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