desagradável

não sou nem quero ser perfeito ou cópia de modelo
com medidas ou virtudes escolhidas por alguém que pense ser
modelo perfeito, belo e virtuoso

sou velho demais para seguir caminhos direitos
sou cabeçudo demais para corredores estreitos
e sou gasto demais para não ser intratável e rugoso
e feio à vista e ao ouvido e ao tacto e ao paladar

sou velho demais para saber que sou eterno
não aqui não no céu e não no inferno
mas só porque não sou biodegradável
ou por ser, para tudo e todos, bem desagradável

sou velho demais para saber que um dia de vida
pode ser uma eternidade bem viva
e o eterno pode ser um só instante à deriva
uma partícula de tempo em tempos perdida

amiúde vagueio sem virtude mas sem receio
também sem conta e sem medida
como a vida
ou como a morte ou a falta dela




foi tudo o que ele disse olhando-me como se fosse eu na outra margem

onde nos sentamos a ver o mar

para sentirmos o céu imenso deitamo-nos de olhos abertos
vasculhando a terra
para saborearmos a pequenez da terra fincamos os pés no chão
abrindo os olhos à poeira luminosa do céu

para vermos quem amamos fechamos os olhos
e as mágicas pontas dos dedos
a medo
se abrem em corolas das mãos
e se

por momentos
o universo inteiro
sossega nas conchas das nossas mãos

por momentos
pulsa uma vida inteira

Faz bem à Madeira, ...

... não a mim que me habituei a viver sem guelras. Asfixio, pois.
Mas não é como estão pensar. Nem porquê.


... É só humidade excessiva. O que mais poderia ser?

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