Os bons e os maus costumes

Nos últimos dias, assistimos a todas as variantes de degradantes poses do estado português para ordenar a miséria do seu povo. Tudo se passa com os partidos no poder e de todos os poderes de décadas de regime, responsáveis por todas as malfeitorias feitas na via pública e na via privada, depois de terem ganho eleições (e administrações) na base de palavras que os atos de governação desmentem.  Habituaram-se à ideia que as eleições são tudo e que a sua representação é tudo, mesmo sabendo que as palavras usadas para obter votos são o contrário dos seus desacatos,  e acham que o povo perde o direito à palavra e à ação indignada em nome da democracia do seu favor. Os governos dos últimos dias cavam covas para quem? E as pessoas? Cavam daqui ou cavam trincheiras?

sombras

5 de outubro

A república aproximou-se mansa, cansada melhor dito. Não falou comigo, porque nada há para ser dito. Não foi bem assim, devo confessar. Educada, a república murmurou as boas tardes antes de se sentar. Poucos momentos depois e, como ela estava cansada!, tinha a sua cabeça poisada no meu ombro. Reparei que, apesar de regime de tenra idade, não esconde as rugas de uma vida cheia de lutas e provações. Reparei num recato que não lhe conhecia. Mesmo reclinada como estava, o seio não se via descoberto. O meu braço subiu até ser um leve meio abraço que cuidava de a proteger caso adormecesse. Tenho um grande carinho por a conhecer desde sempre e não gostaria de a ver de cabeça partida. Conheço muita gente que está convencida que as cabeças da república merecem ser partidas em pedaços. As cabeças e as cabeçadas da república não são para aqui chamadas e, apesar de tudo, não me sinto capaz de perturbar este pequeno sono da república, que ela bem o merece coitada.
Acabei eu também por adormecer como me acontece sempre que fico distraído e parado no tempo. Quando acordei, estava sozinho, deitado sobre o banco. Do sonho só sobrava o carinho de um barrete da república sob a minha cabeça. Estremunhado e de barrete na mão, olhei em volta na esperança de ver a república dos meus sonhos, agora de cabeça descoberta. Ninguém à volta. Nada. Mas guardo na memória de velho teimoso o meu sonho de república. Quem sabe um dia... ela vem para recuperar o barrete de hoje.

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