Andar de vespa
Cabeça tronco e membros. Perde-se a cabeça e os membros e sobra o tronco que deve ser capaz de rodopiar autónomo em torno do eixo das pernas.
Estudei o assunto durante muitos anos, partindo desse princípio e concluí que o tronco só podia ser um sólido de revolução - uma revolução. Mais tarde concluí que teria de ser um pião e ainda mais tarde vim a inclinar-me para que podia haver dois piões rodando independentes.
Foi então que percebi que o mundo das vespas era a perfeição para modelo feminino e fiquei de rastos quando compreendi que toda a gente aí tinha chegado antes de mim, sem precisar de literatura nem de matemática ou física.
Era só química a não exigira qualquer esforço intelectual.
A frase “ela tem uma cinturinha de vespa” era um condensado das minhas hipóteses e das minhas teses a respeito da revolução e dos seus sólidos.
Muitos anos após a desilusão científica, ouvi um amigo queixinhas, que tinha dedicado toda a sua vida ao estudo de vespas, queixar-se que já não havia cinturinhas de vespa e já não cantava “oh minha vespa rainha, faz de mim … o instrumento do teu prazer …e da tua glória, sim oh sim! “ e que começava a acabrunhar toda a gente em redor incluindo as obreiras (à rainha nunca tinha visto cintura) com a sua lamúria repetida: “já não há cinturinhas de vespa”.
Foi ele que me levou de volta à observação pertinaz até que os meus olhos de fundo de garrafa me mostraram uma cinturinha de vespa a deambular, entre nós em passeio de tristes, com dois movimento de rotação que a levaram para longe de nós que ficamos a rodar por ali como dois cilindros tontos e enjoados.
Não conseguindo travá-la para uma conversa e, reduzidos à categoria de cilindros, nem de uma fotografia fomos capazes.
Em casa, de memória cilíndrica, desenhei um esboço que mostrei ao meu amigo.
Nunca mais falou comigo e amontoou todos os seus piões numa gloriosa fogueira.
Ao longo da sua vida tinha comprado com afinco piões para oferecer aos netos que nunca pudera entregar por haver sempre alguém a gritar que era perigoso brincar com piões.
Da fogueira sobraram os bicos metálicos dos ex-piões, de diversos feitios mais ou menos afiados, mais ou menos rombos. Guarda-os numa caixinha e todas as tardes, enquanto outros jogam a sueca ou ao dominó, ele faz passar entre os dedos, um a um, os bicos metálicos dos ex-piões. dividindo e separando, sem descanso, os bicos dos ex-piões de cima dos bicos dos ex-piões de baixo.
Eu guardei o meu esboço e pedi-lhe autorização para o publicar no facebook. Ele não disse nada, como sempre, e eu, como quem cala consente, dei a conhecer a minha ideia de cinturinha de vespa.
Que o meu amigo me perdoe se estas palavras lhe doerem.
de como fué la creación
Érase una vez
un mundo en el que no había nada.
Nada.
Nada de cuanto es conocido,
ni siquiera un viento que soplara,
ni un sol que calentara,
ni el agua para beber,
ni el frio para hacerte estremecer.
Nada.
Nada de verdad!
Ph.Lechermeier & R. Dautremer.
una bíblia - antiguo testamento.
edelvives. Espanã:2017 Livraria Gigões e Anantes, Aveiro
un mundo en el que no había nada.
Nada.
Nada de cuanto es conocido,
ni siquiera un viento que soplara,
ni un sol que calentara,
ni el agua para beber,
ni el frio para hacerte estremecer.
Nada.
Nada de verdad!
Ph.Lechermeier & R. Dautremer.
una bíblia - antiguo testamento.
edelvives. Espanã:2017 Livraria Gigões e Anantes, Aveiro
Subscrever:
Mensagens (Atom)
-
Nenhum de nós sabe quanto custa um abraço. Com gosto, pagamos todos os abraços solidários sem contarmos os tostões. Não regateamos o preço d...
-
eu bem me disse que estava a ser parvo por pensar que só com os meus dentes chegavam para morder até o futuro e n...