dos almeidas
meu avô sentava-se no pólo norte da esfera e fumava sobre a ambição de amar a natureza e o cristal derretido que escolhia o percurso dos olhos do cego e o riso do meu avô afogava-se em álcool puro pela garganta ferida: sabedoria do meu avô esconjurando dum só golpe a vida e a morte.
conjunção — conjugação
estamos todos cercados este é o desespero refectivos em grades usadas pelas nossas mãos e brilhantes e o muro infindável rodeando tudo definitivamente e a amargura nascendo na boca até à ocupação do dia e do corpo
e o sol caindo vertical sobre a vida queimando tudo. e a vida irada rasgando-se e no ventre vago da erva seca
um fogo purificador crescente na ideia do menino.
gigantes as formigas carregando fatias de sol para a gruta do velho ferrador e a aldeia esmagada entre a bigorna e o maço de ferro e os passageiros actuais têm duas dimensôes e são o mesmo.
o novo sangue colectivo pode ser utilizado.
numa cadeia de produção do ramo electrodomésticos com vantagens múltiplas.
LENDAS
aos homens disseram: pesquem que é um bom desporto!
acreditaram e fizeram.
o melhor isco de homem morto
diz-se que os peixes não quiseram. inventam-se lendas por tudo e por nada.
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as minhas duas pastas
Trago sempre duas pastas dentífricas
dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar.
Nunca me foram úteis as pastas dentífricas
porque sempre me esqueci das escovas,
que embrulho antes de sair de casa para esquecer.
Mas a pasta sempre me foi útil
para guardar os pequeníssimos sabões e as toucas dos quartos dos hotéis
que me perseguem há mais anos que
os pequenos frascos de compota que o avião me fez cair no regaço.
Hoje, ao partir, verifiquei as duas pastas dentífricas na pasta de cabedal
e verifiquei também, tarde demais embora, que me esqueci dos bilhetes para a ópera,
para além das escovas de calçado. o não me fazem falta,
porque também me esqueci dos dentes
dentro do seu copo de água nocturno, onde costumam rir-se de mim
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de Arsélio Martins, mesmo quando não parece
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