o que eu quero dizer...
...é que riscos da esferográfica ou similar aparecem a negro sobre fundo branco, as sombras da dobra aparecem a sépia e, se eu bem me lembro da experiência, era azul a cor dos riscos sobre o papel.
o mistério da mudança automática de cor
dos desenhos a lápis sobre o branco do papel a máquina faz velhas imagens a sépia;
o mesmo não faz aos riscos com esferográfica ou outra tinta qualquer
catedral do...
... oriente:
ali rezo e incenso o ar que respiro:
sólida mistura de água suspensa
e fumo soprado de um cachimbo
virado a norte.
nem todos os insectos...
Nem todos os insectos são alados eu sei
mas da larva em que nos tornamos
ao sair do casulo esperamos
a metamorfose em humanos
com asas
e voar voar voar sobrevoar as casas
de quem amamos
mas da larva em que nos tornamos
ao sair do casulo esperamos
a metamorfose em humanos
com asas
e voar voar voar sobrevoar as casas
de quem amamos
escrever sobre o óbvio
Voltarei a escrever um dia.
Um dia, quando esta correria
for interrompida por uma parede
intransponível como uma meta
ou uma bandeira axadrezada
ao longe
voltarei a escrever o óbvio
sobre o óbvio
até se tornar óbvio
o óbvio
e o ódio.
Vou fazer isso
certamente.
Um dia, quando esta correria
for interrompida por uma parede
intransponível como uma meta
ou uma bandeira axadrezada
ao longe
voltarei a escrever o óbvio
sobre o óbvio
até se tornar óbvio
o óbvio
e o ódio.
Vou fazer isso
certamente.
Sobre a morte da edição de poesia portuguesa
Na coluna "Ao pé da letra (Actual. Expresso, de 21 de Novembro), António Guerreiro denunciou:
Os professores, mais do que ninguém, devem guardar estas denúncias na memória, ou melhor, devem guardar na memória as declarações dos responsáveis editoriais.
Vasco Teixeira, responsável editorial pela Porto Editora, o maior grupo editorial português, fez as contas e concluiu: "Se me perguntar se daqui a dez anos ainda se edita poesia em Portugal, dir-lhe-ei que não. Quando muito, teremos algumas edições artesanais(...). E haverá mercado para isso. Para o tipo que faz uma edição de 30 ou 50 exemplares que os amantes de poesia comprarão." Em 1989, um grande poeta e ensaísta alemão, Hans Magnus Enzensberger, também tinha feito as suas contas (a matemática não é uma ciência que lhe seja estranha) e chegara a um número muito mais rigoroso do que o do empresário português: mais ou menos 1354. E como tentava demonstrar que esse número era uma constante universal, para todas as comunidades linguísticas e em todos os tempos, chamou-lhe a "constante de Enzensberger". O escritor alemão explicava esta constante através desta anomalia: é impossível transformar poemas em dinheiro. Sempre assim foi e sempre assim será. Menos dado à Matemática, Vasco Teixeira formula sua constante não em termos de valor numérico (há um intervalo demasiado grande entre os dois números que avança no seu prognóstico) mas em termos de lei económica: a lei do mercado não admite anomalias. A constante dita de Vasco Teixeira pode invalidar a constante dita de Enzensberger por uma razão fraudulenta: quem detém um tão grande grupo editorial e também a maior rede de livrarias do país (a Bertrand) tem algum poder para fazer com que a sua profecia se realize, para que ela seja uma self-fulfilling prophecy. Mas sabendo nós que anteriores mortes anunciadas foram uma falsa notícia, talvez a constante dita de Vasco Teixeira admita as suas exceções e as espécies minoritárias sobrevivam em microclimas. Vamos então suspeitar da constante dita de Vasco Teixeira: "30 ou 50" não é afirmação de ciência certa.
Os professores, mais do que ninguém, devem guardar estas denúncias na memória, ou melhor, devem guardar na memória as declarações dos responsáveis editoriais.
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