O cardume.

Nos últimos tempos, o pais foi abanado por iniciativas da sociedade civil supra-partidárias que, face ao desastre nacional, pretendem influenciar uma sagrada aliança dos dois maiores partidos (um no governo, outro na oposição) para um pacto de estabilidade e crescimento. Lembro-me de muitos deles, pelas caras ou pelos nomes, que nos aparecem acima destas pequenas querelas de governo e oposição com uma força moral e intelectual "devastadora". Descubro-os em antigos governos, em administrações de patrimónios públicos e privados, fundações, etc. Lembro-me deles como sendo aqueles que eram isto e se mostraram competentes para outra coisa qualquer. Não é preciso lembrar-me das suas formações iniciais, porque a competência que lhes é reconhecida é tão vaga nas palavras e nas acções quanto precisa na conquista do poder e de salários milionários (nos sectores públicos ou privados, ou entre uns e outros). Há mesmo alguns que são chatos desde a juventude militante, tendo ficcionado uma versão de eminências pardas (literalmente pardas!). Quase todos eles foram e são elementos da cadeia de negociantes políticos que nos trouxeram até aqui. Ouvi-los a pensar é de arrepiar!

Nos últimos dias, os miúdos do peixe graúdo (novos de cabelos brancos, tão novos como “jovens agricultores” ou “dirigentes de juventudes partidárias”), gestores, administradores e similares também vieram a terreiro com um grande encontro - no convento do(s) beato(s) – para influenciar e promover sagradas alianças em torno de um novo modelo de desenvolvimento. O meu coração quase não resistia à excitação. Finalmente iria ouvir palavras de salvação. Devo ter perdido o essencial, mas ouvi as palavras do costume: #flexibilizar e agilizar; emagrecimento do estado; a Europa e a Espanha não constituem quaisquer perigos, antes são desafios e oportunidades; quem não tem medo da competição não tem medo de Espanha; "etc. Fiquei menos sossegado. No que respeita ao capital, não só não há sério conflito de gerações, como os mais novos aspiram ao paleio dos “cotas”.

Pelo que me foi dado ouvir, o modelo de desenvolvimento que lhes passa pela cabeça não é novidade que nos aqueça e, quem nos dera! que não arrefeça. É “Boss botled” – no convento do beato. Viva o "25 de Abril" que permite todas as reuniões.

[o aveiro; 12/2/2004]

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