irmandade das almas - VII

Irmãos! Não quero ser poeta, mas tanto tanto queria tornar reais os sonhos e dar satisfação aos desejos mais profundos que me animaram e animam! Não tenho a arte do poeta para fazer virar real o que o não é, o futuro radioso que prevejo para lá do futuro que vejo! Que homens somos nós? Que poetas somos? De todos os temas em estudo, auele que me apaixona é este da natureza do militante ligado às questões do aparelho teórico marxista-leninista, à concepção de partido, ... Que forja é o partido?
Levantou-se, enquanrto falava, o irmão Ulisses. [Exaltava-o a ideia de que estava preso, retido, apesar dos seus queixumes, pela filha de Atlas que não cessa de o seduzir com palavras doces e lisongieras para que ele se esqueça de Ítaca, da vida distinta da vida dos deuses.]
Não sei se me entendem, mas reputo esta questão de muito importante para irmãos do nosso tipo! - reclamou Ulisses, olhando de soslaio para o irmão Foz do Riacho, que até aí se tinha mantido sem qualquer marulho. Marulhou então, de acordo, e citou Bob Dylan, cantarolando em relação aos temas da situação nacional e internacional sobre o que se podia fazer:
Os grandes livros foram escritos/ os grandes ditos foram ditos/ e eu só quero pintar um quadro/ do que acontece por aqui de vez em quando/ ainda que não entenda bem o que se passa/ sei que morreremos algum dia, e que nenhuma morte deterá o mundo. E fehou a comporta.
Marta D. saíu. Saíram. Sem saber se de casa, se da casca. A escuridão tinha tomado conta da cidade. Um poeta pintava janelas iluminadas. Quando os irmãos acordaram havia frio em todas as direcções. E desjearam o conforto do partido.

As ruas encheram-se de ecos de passos dos automóveis partindo.

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