No último fim de semana, Paulo Portas fez o seu regresso à politica na qualidade de dirigente do Partido Popular. Com o seu tradicional jeito para feiras, festas e romarias, o PP fez a sua “rentrée” no Pavilhão das Feiras. Em Aveiro, claro.
Nestas alturas, os partidos apresentam as ideias a que querem dar um novo impulso. Como partido da coligação no poder, o PP afirma-se solidário com a politica do governo PSD/PP. Esperamos que a politica do governo de coligação não seja a politica do PP, embora haja quem diga que tem mais peso nas decisões do governo do que o que lhe foi conferido pelos votos dos eleitores. Isso são contas da coligação. Mau seria, de facto, se um partido minoritário de direita fosse dominante num governo feito na base essencial dos votos noutro partido (do centro). As intervenções de Aveiro mostram um P. Popular a avançar com ideias que pretendem influenciar futuras políticas da coligação. Em boa medida, como já tinha feito em anteriores campanhas, P. Portas exagera para obter alguma coisa no que respeita à imigração. As ideias reduzem-se a algum populismo rasteiro: “somos portugueses, temos problemas económicos e muito desemprego, logo temos de fechar as portas aos imigrantes que demandam Portugal”.
Quando Pacheco Pereira vem a terreno combater, publicamente e de forma radical, as ideias de Paulo Portas, ficamos a saber que o que P. Portas defende está longe de ser consensual na coligação do poder. P. Pereira escreve mesmo que P. Portas, com as suas intervenções está a pôr em causa a politica de Administração Interna da coligação. Haja saúde. Brindo a isso, porque será dramático se a nossa politica for fechar as portas aos imigrantes, porquanto somos um pais de emigrantes, muitos deles em países com tantas dificuldades económicas como o nosso e com muitos mais desempregados. O nosso pais já tem grandes constrangimentos relativamente à imigração por via dos tratados europeus e dificilmente suportará novos- O que diz P. Portas só serve para atiçar algumas atitudes e movimentos e ressuscitar valores bolorentos tão queridos de alguma da direita portuguesa. E obviamente serve para cativar e segurar votos xenófobos e associados. A intervenção de politica interna de P. Portas serve para pressionar a coligação e é enunciado auto-proclamado da ideologia mais ou menos isolacionista e trauliteira.
P. Pereira apresenta os seus pontos de vista em tudo contrários aos de P. Portas e acrescenta mesmo, a título de exemplo, que o desemprego dos operários portugueses não se resolve com o emprego dos imigrantes. Exactamente pelas mesmas razões que garantem não valer a pena fechar portas ou expulsar os portugueses da França porque eles estão em empregos que não são tomados pelos desempregados franceses (no que isso pudesse ser significativo).
Também ficamos a saber que o P. Popular quer reforçar a sua frente de combate no campo da ideologia (e da cultura? da arte? da…?) que, a acreditar neles, é mais campo em que dominam as esquerdas. P. Pereira é quem trava essas guerras e fá-lo sozinho.
Gostei de ter escrito um artigo sobre os vários PPs em disputa. Saio para a esquerda do palco e refresco-me na sombra de saber que estão em desacordo.
[o aveiro; 18/09/2003]
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