Votar pela EUROPAZ

Eu não tenho os mesmos interesses dos senhores Barroso, Paulo Portas e dona Manuela. Por isso, não vejo que os meus interesses possam ser representados pelo senhor de Deus Pinheiro. Não tenho os mesmos interesses dos senhores tipo Sousa Franco, até porque ele já disse que os seus interesses, não sendo os mesmos da coligação de direita, são os mesmos do PPD.

Eles querem que eu, peixe-miúdo ou arraia-miúda, acredite que meus são os seus interesses de tubarões. Não se cansam de repetir que defendem a mesma europa que eu e que a sua europa é boa para mim. Tentam mesmo dizer-me que os deputados que eu eleger, se forem de algum cardume de não tubarões, não podem fazer senão política de tubarões e deixar-se comer.

Ora isso não é verdade. Toda a gente sabe que não há um só Portugal e que o portugal de quem cai no desemprego hoje não é o de quem cria e justifica cada lugar de desemprego e o respectivo precário subsídio português. O portugal armado até aos dentes com a mentira e na vassalagem aos senhores da guerra não é o meu. Os negócios privados na água, na energia, na educação, saúde e solidariedade social são do país deles. O portugal xenófobo e do trabalho sem direitos é o portugal de "durão & portas, s.a". É um portugal selvagem e de vassalagem que eles exportam para fora, nos seus sorrisos bajuladores. Para dentro, são cobras cuspideiras de tranquilizantes fundos estruturais, canalizados para portugal que enriquece por a esmola ser grande e empobrece enquanto subsidia o "pato-bravo-novo-rico".

Quantas Europas diferentes cabem na Europa? Os nossos ?construtores? portugueses passam a vida a colocar-nos no pelotão da frente. Alguém acredita que os países que realizaram referendos e votaram contraditorios sobre diversos aspectos da adesão e do desenvolvimento da Europa comunitária estão atrás de nós? Há mais Portugal para além do "Portugal, S.A.". Há outra Europa e é por essa que vou votar: Europa com políticas de paz e contra a guerra; dos serviços públicos europeus com defesa do emprego e pela imigração com direitos, do co-financiamendo dos sistemas de protecção social dos mais débeis, do equilíbrio ecológico e de poupança da energia. Eles falam dos fundos estruturais como quem agita um cheque-brinde. E pedem-nos cheques em branco, enquanto se disfarçam de palhaços mal educados com piadas sobre a vidinha de cada um e se calam sobre a vénia que fazem.

A Europa não é só uma fortaleza ou empresa multinacional. Há a Europa dos cidadãos e eu voto pelas políticas da cidadania europeia livre e solidária com o mundo. O meu voto tem a direcção e o sentido do bem comum.


[o aveiro; 10/06/2004]

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