Há razões de sobra para estarmos todos felizes. O Ministro das Finanças disse-nos, a respeito de uma conversa sobre dinheiros, que somos todos membros de uma grande família a viver na mesma casa, contribuindo com dinheiro para a casa, que o estado português é a mãe que conta os tostões da família, decidindo as despesas a fazer. Quem não se sente confortado por fazer parte da grande família do Ministro das Finanças?
Alguns familiares andam zangados, e com razão, porque alguns filhos não contribuem para o bolo da família e não é que não possam. Podem e muito. O pior é que, embora não contribuam com a sua quota parte para o bolo, são os que dão as primeiras e maiores dentadas no bolo colectivo.
Mais zangados estão ainda porque a mãe trata uns como filhos e outros como enteados. Raios a partam! dizem alguns, os que não podem aceitar que a mãe desculpe os filhos mais ricos de não cumprirem com as suas obrigações e os trata por igual ou chega mesmo a favorecê-los quando chega a hora da distribuição da comida.
Pior ainda quando a mãe diz que, para alguns serviços essenciais, vai pedir mais contribuições e de acordo com o que cada um já paga, de tal modo que quem não contribuía continuará sem contribuir e quem já contribui ainda vai ter de contribuir mais. Todos os filhos que trabalham por conta de outrém contribuem e são afinal enteados. Os filhos da mãe não. Dizem os mais zangados que a mãe não devia procurar cobrar mais a quem já paga e que, se há falta de dinheiro, deve obrigar todos a cumprir com as suas obrigações.
Esta mãe diz que não dá mama aos filhos esfomeados para não os habituar mal. E deixa-se sugar por aqueles filhos da mãe que já só mamam por puras gula e inveja.
Não há moral nisto. Ou há e talvez seja esta: Mãe que maltrata a maioria dos seus filhos e protege parasitas acabará devorada pelas carraças das suas ideias. Ou esta: Tal mãe, tal filho das finanças.
[o aveiro; 16/9/2004]
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