Estou a desenhar um risco

Alguns fazedores de opinião e cientistas sociais portugueses têm realizado um trabalho persistente de análise dos resultados dos exames do 12º ano, cuja edição deste ano acaba de ser publicada sob o habitual título de ?ranking?. Já conseguiram um facto educativo da maior importância que é a entrada da palavra ranking no vocabulário de todos os portugueses por mais mal educados que eles sejam. Vi e li dois: O ?ranking? expresso do ensino secundário, também chamado o novo quadro de honra, e o Ranking ?das 608 escolas secundárias, no Público. O Público declarou um colégio como a melhor escola do país com um total de 21 provas de 5 ou 6 estudantes. Há alguém que acredite que em qualquer das outras escolas de Vila Real, públicas com centenas de alunos, não se podem isolar 10 alunos cujas médias sejam superiores a 14, 7 (que é a tal média do Colégio da Boavista)? Deus meu! O melhor disto tudo é que professores, pais e estudantes acompanham os analistas e conseguem ver efeitos de mudanças em cada escola de um ano para outro. Mas quem acredita que houve mudanças nas escolas de Aveiro com influência nos resultados dos exames do 12º ano? Só tem interesse olhar para os resultados se for para melhorar o parque escolar e a escola conjunta da cidade.
Para que se perceba melhor as tolices que se dizem a partir dos rankings, aqui ficam alguns dados simples. Nos 3 últimos rankings do Expresso, a Escola José Estêvão ocupou as seguintes posições 43, 44, 53; a Homem Cristo ocupou os lugares 35, 49 e 114; a Mário Sacramento ocupou os lugares 278, 443 e 397, enquanto a Jaime Magalhães Lima passou pelos lugares 236, 161 e 213. Já nos rankings do Público, as coisas passam-se assim: José Estêvão ? 37, 83 e 111; Homem Cristo ? 82, 46 e 125. E pelo que consegui saber, neste ano, para o ranking do Público, a Mário Sacramento está na posição 471 enquanto a Jaime Magalhães Lima está na posição 297. (Todas atrás da excelência do colégio da Boavista) E já repararam nas variações de ranking para ranking ou de ano para ano? Acreditam que elas são espelho de algum sentido de mudança? De um ano para o outro, a única coisa que muda, mudando tudo, são os alunos que prestam provas de exame.

Estamos a piorar as médias. Embora tenhamos, em cada uma das escolas, um grupo de 10 ou mais examinandos que estão muito acima da média, estamos a piorar. E isso revela vários falhanços que vale a pena estudar: dos professores e das escolas, do sistema de explicações que gira em volta das escolas, dos estudantes.

Só me ensinaram a desenhar a tristeza. Não quero desenhar o ridículo que a tristeza carrega como cruz.


[o aveiro; 07/09/2004]

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