estagnardia

Há dias em que espalhamos palavras sobre todas as coisas da nossa vida, como quem estende um pano sobre as nódoas da mesa. Para quem chega de novo, vindo de fora, o que vê é a toalha lavada. Mas para nós? Tentamos parar o movimento perpétuo por um instante melancólico. Mas nós sabemos que há o dia seguinte, que nada parou entretanto porque nada aconteceu a não ser sobrepor as palavras, uma ou outra mentira piedosa sobre nós mesmos para nós mesmos. É certo que deixamos que alguns grãos de poeira se colem à pele do lugar.

Acordo ainda mais cansado ao ter de reconhecer que tudo recomeça uma e outra vez na cabeça que é onde precisamos de travar e é onde não há travões... onde não há travões. Eu posso decidir que não dou mais um passo e deixar-me adormecer paralisado nesse instante mágico em que decido sobre o meu corpo. Mas a imaginação é o filme que passa contando-me tudo o que fui e tudo o que não serei por ser incapaz de ser o dia seguinte de mim.

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