Orgulho e preconceito.

1.

Trago os bolsos portugueses cheios de orgulho. Uns dizem-me que devo orgulhar-me por ter um português como chefe dos comissários europeus.

A barraca da primeira proposta de comissão em estilo rococó fez recuar Durão Barroso e os chefes dos governos da Europa do tipo Berlusconi, esse rapaz que, pela via do poder, se tornou imune à justiça do seu próprio pais. Também pelo partido do nosso ex-primeiro se passeiam algumas personagens do tipo foragido. Durão Barroso voltou com uma nova proposta de lista de comissários e esta acabou por ser aprovada no parlamento europeu.

Já aprovados pelo Parlamento, mas sem terem experimentado as cadeiras da comissão, os comissários começaram a pingar escândalos que recomendavam aos governos dos seus países que os não indicassem e ao nosso orgulho Durão que os não aceitasse caso lhe fossem propostos. Ficamos a saber que afinal não estamos sozinhos no mundo quanto a governos fracos de honra e ficamos a saber que o nosso chefe dos comissários aceita tudo o que os chefes dos governos lhe impõem. A comissária da concorrência está envolvida em vários processos de violação das regras e leis da concorrência. Argumento dos defensores da comissão: não está envolvida em mais do que 3 processos o que é uma gota de água no mar de milhares de processos em investigação. Não é espantoso este argumento a favor da desdita? Outro comissário até se esqueceu de referir que tinha sido condenado a pena de prisão e afastado de cargos públicos no seu pais. Orgulho no chefe português desta comissão tão qualificada?

Este orgulho que me propõem tem de ser escondido. É por isso que trago os bolsos cheios de orgulho.



2.

É mesmo preconceito da minha parte.

Interferem com os privados da televisão. Interferem com os serviços públicos de televisão. A primeira reacção dos tipos envolvidos é falar de outras interferências no passado e por outros partidos para não terem de explicar e assumir responsabilidade pelo que está a acontecer. Como se fosse natural dizer: outros foram piores que nós, deixem-nos ser um pouco trastes. E assim fazem com quase todos os problemas. São uns chatos pouco honestos untados num verniz que cheira mal. Não há pachorra.

É mesmo preconceito da minha parte e não consigo escondê-lo.



3.

E dizem-nos: porque não nos querem modernos como os outros selvagens da Europa?
Há civilização europeia e outra Europa. Na nossa Europa não esquecemos a experiência: os votos podem dar-nos o melhor da Europa, mas já nos deram o pior de tudo o que ela tinha para nos dar.



[o aveiro; 25/11/2004]

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