tisana 17

Nos anos em volta de 1970, lia muita poesia e comprava alguma com o pouco dinheiro que ia tendo (e era muito, pelo menos para a poesia que ninguém que eu conhecesse comprava). Hei-de revisitar uma a uma as mulheres que lia - agora que me lembro, as mulheres da poesia desses anos, deixaram-me mais marcas que os homens. Um dos livros que copiei laboriosamente ainda antes de o comprar era o "39 tisanas" da Ana Hatherly. Quando o procurei há uns dias e o não encontrei como fiel do armazém da memória impressa, decidi comprar as "351 tisanas" para conversar à porta de casa com o porco Rosalina ou com a chave que abria a porta aberta.


Era uma vez uma chave que vivia no bolso de um homem. Durante muito tempo desempenhou com honestidade o seu trabalho de abrir portas. Até que um dia descobriu que todo o seu trabalho tinha consistido sempre em abrir portas que já estavam abertas. Quando descobriu isso lançou-se corajosamente para fora do bolso. Caíu no chão. Ficou ali. Passa uma criança vê a chave e diz que coisa tão engraçada para fazer um carrinho.

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