a flor das águas

Devias deixar-te afundar um dia. Para veres o negro e
enfim dares valor a cada raio de luz
Não é coisa sem valor uma pepita de luz.

Devias deixar-te cair com um peso amarrado ao pescoço.
Para veres como pesa menos o que te prende ao lugar
de onde queres sair desesperadamente.
Porque te vai faltar o ar, vais dar real valor a cada bolha de ar
que verás a sair sem regresso da tua boca.
Vais invejar a sua agilidade na pressa da subida.
- Se tenho medo do escuro, mais medo tenho da falta de ar! -
é o que dizes para esconder a verdade,
apaixonado que estás, sempre estiveste, pela flor das águas
e seu brilho tenso de fronteira instável entre água e ar,
sombra e luz,
a tua vida adiada antes
e depois da tua morte anunciada.

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