Não ser de cá

A partir de Aveiro, a ruga na paisagem que ocorre para viagens a leste é o IP5. Embora ande muitas vezes a leste do que se passa, nem sempre me acontece cair no IP5 se me lembro a tempo de outras vias possíveis para o tempo disponível. Sempre que me foi possível e a razão prevaleceu, passei ao lado e longe do IP5. Mas nem sempre foi possível. Moncorvo, Fundão, Guarda, Covilhã, Seia, Vila Velha de Ródão, Vouzela e Viseu atraíram-me para o IP5. Escapei algumas vezes, mas nem sempre.

Agora, depois de beber vários copos de fel e provar dissabores, sei que fui muitas vezes feliz, improvavelmente. Umas vezes, não apanhei mais do que umas bichas monumentais por avarias de camiões no meio do estaleiro que o IP5 é. Outras vezes, as bichas são fruto do próprio IP5. E fui feliz mesmo quando a estes dissabores se acrescentaram espessas cortinas de nevoeiro, tornando o tempo tão lento que eu, sendo velho e lento, me senti animado a correr? à frente dos carros.

O pior estava para vir e isso é entrar e sair do IP5. Entrar e sair em Viseu não é difícil. Mas vindo de Viseu, as luzes nos médios e a atenção no máximo não chegam para discernir a entrada para Vouzela. Parece que nos enganámos, mas não! Percebemos que está tudo bem quando vimos o anúncio de uma igreja em Vouzela. Redobramos a atenção, mas não damos com a entrada e damos pelo engano só quando vemos o anúncio de saída que já é outra e é preciso pensar com muita rapidez enquanto guiamos sem elegância na ânsia de uma saída qualquer.

No regresso para Aveiro, faço pontaria a um nó do IP5, mas falho a entrada e fico a conhecer umas estradas de serra que seriam muito agradáveis se não tivesse caído a noite e eu pudesse ir ver Antela, o Ladário, o alto da Senhora Dolorosa, etc. Como português, dou por mim a aceitar que os construtores de obras façam os planos em cima do joelho, do meu joelho e da minha paciência. A criação de alternativas para não perturbar a circulação de pessoas e mercadorias não está prevista? O caderno de encargos da obra considera a sinalização, a prevenção nos desvios, etc. Com certeza, na Europa.

Em Portugal, só não se perde, quem já se perdeu antes e insiste. Se não sabe por onde deve ir, o que veio cá fazer? Se pagar portagem para as obras, pode reclamar. Quem quer avisos e placas decentes, não é de cá, não sabe por onde anda.


[o aveiro; 9/12/2004]

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pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui