Num debate sobre o código de estrada, ao falar do ensino da condução, um dos intervenientes definiu bem a tragédia da escola. Disse ele que as pessoas vão à escola para tirar a carta e que não há quem lá vá para aprender a conduzir e que pode acontecer que o instruendo assine o livro de ponto num número de vezes superior ao número de aulas frequentadas. De outro modo, um outro interveniente disse que os instrutores ensinam as pessoas para passar nos exames e não a compreender a lei para a respeitar nem a conduzir nas diversas situações que vai enfrentar na vida corrente. Por isso, dizia ele, o ensino da condução é mau só porque os exames são maus e mal feitos. Noutra altura, um dos intervenientes afirmou que há centros de exame vizinhos estando um sempre engarrafado de examinandos inscritos e outro quase sempre às moscas. Pretendia ele denunciar o facilitismo ou corrupção de algumas instituições acreditadas que fazem favores para garantir a afluência de clientela.
Esta é a tragédia do ensino da condução. Não tanto por termos escolas más, exames maus e pouco rigorosos, centros de corrupção como centros de certificação e mais por termos pais e jovens que não aprendendo o código nem condução querem obter certificação, carta, autorização dada por tais centros. Para tomar em mãos um volante como quem prime um gatilho de uma arma que não se segura e vai disparar descontroladamente.
A ser verdade o que se ouviu, o problema essencial é das condutas morais, da má educação à má condução, do desrespeito pelos direitos e pela vida dos outros.
Mas serão essas tragédias exclusivas do ensino da condução? Ou são as tragédias de todo o ensino e, só por isso, acabam como tragédias do ensino da condução? O bom senso comum diz-nos que as denúncias feitas pelos responsáveis para as escolas de condução não são estranhas às concepções de muitos pais portugueses sobre o valor de uso da escola em geral. Pouca preocupação com o conhecimento, pouca exigência com o trabalho, permissividade relativamente à assiduidade dos filhos e ao cumprimento de horários de trabalho, ... controle e reclamação sobre o quê? As notas e a certificação.
Que podemos fazer? Se a situação for esta, precisamos de políticas simples, muito simples. Não é?
[o aveiro; 31/03/2005]
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