Não parámos de correr ao lado do nosso tempo. Ás vezes pensávamos que corríamos à sua frente. Mas isso sabemos hoje que é o puro engano que queríamos ou de que precisávamos para continuar a correr para o lado da frente, onde, por convenção, o tempo se está a desenrolar sem parar.
De todos os rumos que a conversa podia ter tomado, rumámos para o lado da liberdade e da democracia. Não demos tanta importância ao desenvolvimento sempre que ele nos aparecia como coisa desgarrada da liberdade, da democracia e até da igualdade. Houve tempos em que mantivemos uma confusão entre igualdade e igualitarismo. Mas não foi isso que estragou a caminhada.
De resto, a nossa vida não chegou para mais do que uma conversa intermitente sobre a cultura em geral, a matemática como tema e o ensino bem sucedido na aprendizagem como obsessão. Comprámos todas as ideias que havia para comprar. Tudo se resumia em encontrar uma que funcionasse. A ideia foi estratégia e táctica, pedagogia e didáctica, actividade e tarefa, situação e problema, teoria e prática, etc. Fora isso, navegámos sempre com os amigos à vista e eram eles quem nos guiavam nos disparates maiores sobre a ilusão das criação do homem novo pela educação e pelo bem estar geral, pela fraternidade universal,... A idade leva-nos a pensar que nada é tão profundo assim e que o nosso papel e o da nossa época é infinitesimal. De facto, até esses amigos fomos perdendo de vista à medida que os víamos do lado dos poderosos e sem serem os exemplos que nós queríamos ver.
Há quem arranje novos amigos dos novos conhecidos que são ricos e poderosos. Conhecemos militantes marxistas leninistas que, em trinta anos, se tornaram políticos nos partidos do poder e ganharam amigos milionários ou são eles mesmos milionários. Amigos? Estranho, não é?
Talvez não! Provavelmente não estamos a falar de amigos, mas de trocas de favores e tráfico de influências. O mais provável é que nem haja amigos nesse mundo para onde eles foram.
Fugimos desse mundo. E arriscamo-nos a ser acusados de crimes vários e cobardia. Mas se é verdade que a democracia é o melhor de entre todos os maus sistemas políticos, continuamos a acreditar que os tipos da nossa geração que foram para o poder fizeram algum mau serviço quando foram exemplos de corrupção e levaram multidões a pensar que o poder corrrompe, que todos os políticos são uma merda sem excepção e que não foi para alimentar estes filhos da puta que se fez o 25 de Abril.
Não podemos resumir o que fizemos e o que falhou de tudo o que fizemos, nem podemos saber o que sobrou do que fizemos. De certo modo, podemos fazer a lista dos desejos que perseguimos, sabendo que hoje continuamos no caminho, um pouco mais à frente no caminho para o que sabemos inacessível e não desistimos de atingir.
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