começo

quando não me apetece o futuro sei que em algum lugar adiante no tempo estou perdido num instante que existe e me escapa sem eu saber por onde se escapa.
começo a desconfiar que aquilo que sempre me disseram sobre a fragilidade do sagrado é verdade e que nenhuma divindade ou inspiração vital se dará a ver ou será adivinhada como forma em dobra de cortina.
enfunadas pelo vento repentino que parte do tal instante adiante para a depressão cavada no meu corpo como um corredor para a corrida dos animais ferozes em retirada, as cortinas armam-se em velas e nem os mastros do navio as seguram a este mundo partindo elas antes do naufrágio que não puderam evitar.
porque é que me sinto um náufrago andrajoso a quem falta tudo até a vontade de encontrar terra e uma enseada é o que te pergunto mais a ti do que a mim sem soltar um único som.
quando não me apetece o futuro deixo-me andar de um lado para o outro e nada do que não interessa me escapa para me doer aí no lugar mais improvável a que a razão chama coração.

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