Quando foste jovem eras mais intolerante do que quando foste velha. Dizem os que te conhecem que vais amolecendo à medida que vais envelhecendo. E que isso vai ser a tua morte! Assim te falam, velha Europa civilizada!
Dizem isso para apoiar todas as iniciativas guerreiras, em apoio de todas as cruzadas ocidentais. Mas dizem-no também para te justificar como fortaleza de fronteiras fechadas, para acabar com a livre circulação de pessoas e bens cá dentro e de fora para dentro da Europa, para justificar as acções agressivas das polícias nacionais contra os suspeitos do costume que são aqueles que não usam os nossos costumes. Dizem à Europa civilizada que não pode ser multi-cultural e multi-racial. À Europa tolerante dizem que ela é a Europa dos cobardes sem princípios e sem fé própria.
E apontam como exemplos morais a seguir os Estados Unidos da América em que a religião tem lugar até nas notas de dólar e é utilizada, pelo seu presidente, como razão de estado para aplicar castigos ou prosseguir guerras e agressões ao arrepio do direito internacional. Acabam por encontrar uma razão de direito para todas as agressões na miséria da diplomacia de blocos que acaba por levar todos os governos a participar do esforço da reconstrução, mesmo daqueles que estiveram contra a destruição do que é preciso reconstruir. No rescaldo dos actos terroristas que afectam a Europa, ganham relevo as opiniões que vão no sentido do regresso às cruzadas. Os directores de grandes jornais e de grandes grupos de comunicação ligados a grandes grupos escrevem as opiniões mais radicais.
A fé destas novas cruzadas é transversal a todas as religiões e ideologias. Eles recomendam, entre outros, como exemplos a seguir, as emergentes potências industriais e comerciais asiáticas (a China, por exemplo), e estas baseiam todo o desenvolvimento industrial e a acumulação capitalista no desrespeito dos direitos humanos, na repressão e exploração da força de trabalho.
A fé comum aos teóricos da agressão sistemática não está em uma qualquer religião ou na democracia para os povos - reside mesmo na violação do direito nacional e internacional, na violação dos direitos humanos. Na exploração competitiva. Na circunstância. Na oportunidade.
Já devíamos ter juízo de tão velhos que somos. Os patrões desta comunicação guerreira estão a fazer a sua guerra em todo o mundo. Não há fronteiras para as suas companhias de pilhagem de recursos, sejam eles matérias primas ou trabalhadores humanos. Nunca o lucro foi tão grande e tão globalmente baseado na instabilidade.
[o aveiro; 25/08/2005]
A riqueza das nações? Já não há coisa alguma que mereça esse nome.
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