irmandade das almas - IV

A verdade e a mentira são miscíveis e a mistura é mal-cheirosa.
Bons argumentos, válidos argumentos carregados de verdades servem, em política, para apresentar boas mentiras como se fossem boas verdades. As melhores fundamentações de coisas erradas (e tantas há) é isso da mistura da verdade com a mentira. Mistura mal cheirosa, mas só para olfactos muito apurados ou desconfiados. Quantas vezes comemos disso? Afirmemos! Mas não tentemos dar uma forma acabada, completa. Afirmemos abertamente. De forma aberta: para servir a verdade. Boa! Não tentemos cercar a mentira de muita verdade e muita citação para dela fazer verdade! E deixemos que se desconfie da verdade! Mesmo desta. Irmãos! Sejamos francos! Sejamos fracos!
Nesta altura, o irmão Foz do Marulho foi interrompido por aplausos entusiasmados e gritos de apoio.
E continuou:
Em especial, recomendo que não usemos os clássicos como armas (bem citados e bem cortados) para apoiar isto, aquilo ou o contrário. Nem falemos em nome de quem não somos (por exemplo, nunca falemos em nome da classe operária) para que as nossas opiniões ganhem respeito. As opiniões são nossas. Que as coma quem quiser! A árvore que dá fruto, o melhor fruto possível, não o preparou para quem o vai comer, mas para si mesma, para a sua própria reprodução. Se alguma ideia produzirmos é para nos reproduzirmos. Ora bem! E mais nada! Viva a Mesa!
De novo, o irmão se viu interrompido pelos gritos de euforia dos irmãos. Pediu calma, antes de continuar:
Falando em nome da classe operária, mentimos. Falemos da classe operária, sobre ela, dela, das ideias que lhe atribuem, dos que dizem representá-la, dos que falam em nome dela, de ... Sejamos tagarelas, para quebrar a solidão. Mas nunca usemos a classe operária para dar peso às ideias. Porque as ideias não têm peso.

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pelos olhos dos dedos

já não sei há quantos anos estava eu em Elvas e aceitei mais um que fui