Banca!

Os discursos políticos falam de crise geral. A solução para todos os males está na redução do défice e na criação de incentivos ou benefícios atractivos para o investimento e para os empresários. Dizem-nos que se não adoptamos novas empresas, não resolvemos os problemas de emprego. Há empresários sem empresa. Esperam lucros de negócios e não razoáveis retornos de uma empresa saudável, desempregados que aceitem trabalho sem estabilidade e com salários baixos, que não se cobrem os impostos devidos, que subsidiemos a implantação do negócio e que não haja castigo quando, apesar de todas as ofertas, abandonarem a mão de obra desesperada por novo noivado. Na aldeia global, a elevada rotação dos produtos e serviços afluem a uma arena de comércio que não se esgota na satisfação das necessidades por acesso aos bens essenciais e cria necessidades artificiais.

A esta situação económica desequilibrada, difícil e em crise - trabalho e necessidade, salário e produto - ou propiciada por ela, opõe-se o florescimento das movimentações financeiras, optimistas, em delírio por não corresponderem, na sua imensa maioria, a quaisquer equivalentes em produtos verdadeiros. Nunca houve tantas operações financeiras como actualmente e nunca os bancos e similares deram tanto lucro. Muitos dos empreendimentos produtivos foram abandonados e trocados por deambulações e orgias financeiras. O dinheiro, que antes crescia pela troca de mercadorias, cresce agora mesmo quando não há quaisquer mercadorias, bens culturais ou trabalho incorporados na troca. Mesmo quando nada mais há além de dinheiro nesta virtual riqueza das nações.

Apesar dos lucros astronómicos, os bancos requerem privilégios fiscais e mesmo dispensas de pagamento de algumas taxas. E o governo dá. Quando a cupidez é muita e saltam fora da legalidade já de si tão favorável, alguma alma os há-de informar da eventualidade da busca de ponta de crimeada. Até o Banco de Portugal, que controla suspeitas movimentações de capitais, não dá por nada. Olha como mudo, denuncia calado.

Não é português um banco (ou instituição financeira) sem antigo ministro, secretário de estado ou similar na sua administração. Mesmo banco estrangeiro, com negócios ligados ao estado ou coisas públicas, não escapa a administrador político luso. Ética legal em acção!

[o aveiro; 27/10/2005]

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