Todos ficamos envolvidos nas discussões sobre um orçamento de estado quando este desce do do governo ao parlamento com vista a receber o voto do partido do governo e a condenação dos restantes partidos.
No fundamental, o orçamento do Partido Socialista é o orçamento dos partidos à direita e estes, garantido que está o seu orçamento, podem votar contra para afirmar-se como ainda mais radicais defensores dos interesses do grande capital e não desdenhando um ainda maior ataque aos papeis que cabem ao estado social moderno. Aliás, o melhor para os partidos da direita será ver o estado social exaurido e atacado por quem se reclame de esquerda.
Para cada ideia de sociedade e de estado, até mesmo para cada classe social ou para cada grande grupo de interesses, há um orçamento. Há muitos orçamentos na discussão de cada orçamento de estado. Para a esquerda, o orçamento baseado nas grandes obras públicas e no aprofundamento de todos as vias que conduziram o estado e o país até este buraco não pode ser aprovado. O orçamento do PS não aposta nas pessoas, na sua qualificação e no que sejam competências humanas em acção. Aposta antes em actos inaugurais de uma nova era de grandes obras e eventos para movimentar capitais no sentido do costume, do estado para os do costume, continuando a aprofundar o abismo entre os mais ricos e os mais pobres.
Este é o orçamento que nos permite sair da crise? - é a pergunta destes dias. Não sabemos responder. Para quem nunca esteve em crise, banca entre outros, o orçamento do PS ainda lhes garante mais umas coroas... e de louro, por terem visto subir os seus lucros aproveitando o presente da crise dos outros. Para o estado social, o orçamento vem dizer que a sua crise deve ser aprofundada. Os pobres e desfavorecidos, desempregados, etc irão ver as suas condições de vida prejudicadas porque é sobre a sua pobreza que um futuro radioso vai ser construído. Para esses, o orçamento vem aprofundar-lhes a crise do presente em nome de um futuro que lhes escapa.
Ao ler o orçamento, assalta-me uma curiosa comichão com o cuidado extremo posto nos artigos que se referem à Caixa Geral de Aposentações, com cuidadosas notas sobre inscrições dos titulares de cargos dirigentes. Quem fica a dever à Caixa? Certamente que não são os que descontaram toda a sua longa e normal vida activa e carreira retributiva! Finda a resistência ao cerco, imaginemos como vai ser o saque.
[o aveiro; 17/11/2005]
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