uma grua espreitava


Ali onde menos esperava erguia-se uma nuvem
ameaçadora como uma ferramenta cinzenta
ou uma guilhotina brilhante na nesga de luz.

Enquanto ruía um céu metálico de sabores e gruas
e roldanas, porcas, parafusos e foices de longas curvas,
fêmeas e machos voavam espreitando passos de roscas
acertando noivados, casamentos, amor eterno.

Uma grua galgava o abismo, de braços abertos,
aos ombros, equilibrava a cidade de cordas de aço
retesadas pelos músculos do medo.

E eu, onde menos me esperava, aparecia a espreitar-te
como uma grua pesada se reconstruindo peça a peça.

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