lugares comuns

Repito alguns lugares comuns. Quem diria que o que eu escrevo hoje é um lugar comum?
Escrevo sobre lugares comuns impróprios para consumo de quem tem uma pátria no goto e por ela deita lágrimas como qualquer crocodilo em ânsias de a comer.

Eles dizem que quem não vai em futebóis não é bom pai de família e nem é patriótico, porque a afirmação da cidade é a afirmação do clube de futebol, a afirmação do país é a vitória europeia de um clube de profissionais de futebol ou as vitórias das nossas selecções de futebolistas profissionais que já são tudo menos selecções nacionais, qualquer que seja o ângulo por que as veja. Dizem-me que sou o lugar comum das frases feitas que recusam o espectáculo da actualidade da pátria que se cumpre a pontapé.
Já escrevi as mesmas tolices quando a pátria decidiu que as grandes obras do regime eram estádios de futebol onde coubessem todos. Quantos? Então? Vamos lá cambada, todos à molhada.

Eles dizem que não é patriota quem não dá o devido valor ao dinheiro que entra na pátria e entra em bolsos dos filhos da pátria. Para muita gente, o que é preciso é haver dinheiro a circular. Até pode ser que pingue algum para lado de cada um. Com o novo quadro comunitário de apoio, Portugal prepara-se para receber, nos próximos seis anos, cerca de 20 mil milhões de euros em fundos comunitários. Há quem saia à rua de arquinho e balão a cantar louvores aos negociadores. Recebemos muito dinheiro. Viva. Só que isso significa o reconhecimento pelos restantes países da união do nosso subdesenvolvimento relativo e significa que os milhões que entraram no país não foram utilizados para o desenvolvimento. Dizia o poeta que Portugal é a face com que a Europa olha para ocidente e para o longe, mas todos reconhecem que a incompetência na gestão dos fundos pelos políticos e gestores portugueses fez de Portugal a cauda da Europa. E onde estão os grandes responsáveis pelas políticas seguidas?

Sabemos que eles estão onde sempre estiveram, que não assumiram os desastres nem fizeram propósito firme de emenda. Por isso, tememos que seja uma euforia de patos bravos e afins a tomar conta do dinheiro. Já conseguiram conduzir-nos até à cauda do tal "pelotão da frente". Em 2013, quantos à nossa frente? (Menos no futebol, dirão, com a glória pela mão.)

Eu quero estar enganado. Mas eles habituaram-se a ganhar nas negociações e nos negócios. E vão desenganar-me, não é? E eu não saio dos meus lugares comuns.

[o aveiro; 22/06/2006]

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