Eu via como a minha avó puxava de dentro do avental
o lenço encardido e limpava a lágrima amarela
de qualquer criança arreliada por não voar
em vez de cair do muro alto.
Ainda hoje procuro ver as pregas do avental
no intento obscuro de perceber de onde saíam
penas, fios, canas e até a broa esfarelada
com que prendia pelo bico os animais alados.
Vejo-a agora afagando a ave no colo do avental
vendo que roubava verdadeiras penas para asas
do anjinho da família para a procissão
e esse anjinho só voava ao colo da imaginação
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