Crítica da razão vazia

A avaliação de um ou outro programa de acção e de uma dada situação sectorial ou do desempenho global de uma dada classe ou sector trazem para a ribalta alguns especialistas. Como autores de estudos que (cor)respondem a encomendas de entidades e organizações é que os cientistas sociais são apresentados à generalidade dos cidadãos. Para apoiar alguma decisão controversa é que se realizam estudos. Para as encomendas, estes especialistas escolhem um quadro de referência, indicadores de resultado e de impacto, etc, e, como é óbvio, raramente chegam a conclusões diferentes daquelas que interessam às entidades que pagam o estudo. Estes trabalhos científicos de encomenda feitos com e sem a necessária seriedade têm um efeito devastador sobre a credibilidade do trabalho científico, lançando a suspeição sobre tudo o que seja ciência como método de apoio à decisão social, económica e política. Estes cientistas sociais estão a conformar o discurso político, impregnando-o de terminologia científica desnecessária que oculta retrocessos para a consideração da individualidade humana, de tal modo que ao analisar fenómenos como o desemprego fazem desaparecer cada pessoa concreta até ela ser uma unidade estatística ou um dano colateral de alguma guerra decretada pelo mercado livre.

Para gerir escolas (ou hospitais), para decidir e avaliar programas de acção escolar e até a acção dos professores, encontram-se pessoas que não têm qualquer experiência das escolas ou do ensino da disciplina que vão gerir ou avaliar. Estas não têm que saber coisa alguma sobre contexto e conteúdo em concreto, porque tudo sabem sobre teorias e práticas de gestão, técnicas de análise de conteúdo e de estudo de casos, etc. Equilibram-se numa corda esticada sobre o abismo de um aterro de palavras.

Trocam as pessoas por miúdos, pelas palavras que enchem os relatórios. E, na sua infinita ignorância citacionista, defendem como única síntese possível, a sua leitura vazia de experiência e de conhecimento, a leitura interessante para o dono da encomenda. E são a voz do dono.

Nota-se demais quando algum deles muda de dono. Os estudos estão publicados para nunca serem lidos por pessoas.


[o aveiro; 08/06/2007]

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