De vez em quando saímos da casca e vamos para um lugar tão distante a que possamos chamar remoto. Quando nos ataca o desejo de sair da casca, ficamos prontos para ir até onde está o exemplo que queremos inaugurar. E se lá chegamos, ficamos tão excitados que nem resistimos a dar uns murros no púlpito de onde pregamos ao mundo inteiro o sermão da excelência do exemplo inaugural. O exemplo inaugural serve sempre para inaugurar uma nova era - a era das coisas como devem elas ser para todo o sempre e enquanto nos lembrarmos do nosso actual ponto de vista.
Este ano saímos nas vésperas da abertura do ano escolar e fomos inaugurar a nova era num lugar não muito longe do lugar onde um presidente sardento tinha presidido a uma desinauguração da era do excessivo abandono do interior. Inauguramos o exemplo inaugural mostrando-o a todos quantos se deixem fascinar pelo que os seus olhos vêem.
Vizinhos felizes do exemplo inaugural, para todos nós, as distâncias são coisa pouca e poucas horas de vida serão gastas para chegarmos à altura do exemplo inaugural. Chegamos a pensar em organizar excursões de curta duração e visitas de estudo para admirar o exemplo inaugural replicável como um marco que assinala onde começa a nova era. Outros de nós preferem esperar um ou dois anos até que numa outra saída da casca nos dê para desinaugurar o exemplo que já era.
Um centro escolar moderno sempre é em qualquer lugar do nosso mundo um bom propósito e um bom tema de conversa. Mas sabemos que é um despropósito toda conversa fiada sobre o que seja o saber, a cultura, a educação e o ensino - humano e frágil lugar de espírito - como coisa intrusa que possa ser criação de uma forma de organizar o espaço habitável. Fora da casca, ímpossível é travar a língua.
Parecia uma nova era anunciada por figurantes numa passarela inerte? Passemos a participantes de uma nova era de ocupação dos nossos mais belos lugares e vivamos uma disciplina do espírito que nos poupe o sermão do exemplo inaugural que já era antes de o ser.
{o aveiro; 13/09/2007]
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