Neste segundo semestre de 2007, Portugal tornou-se o país de todas as cimeiras. Não só por ter assumido a presidência da União Europeia.
Logo por sorte ou por azar a cimeira ibero-americana deu pano para mangas. Com o “Porque não te calas?” em castelhano real, os nossos Presidente e Primeiro ganharam altura e tempo aos nossos olhos presos até prejudicarem a atenção aos problemas com emigrantes portugueses na Venezuela.
Já no âmbito da presidência europeia, foram tantas as conferências e cimeiras que chegamos a pensar que, depois do tratado de Roma, são de Lisboa todos os grandes documentos de tal modo se colam virtudes e importância aos papéis europeus começados e acabados em Lisboa.
Alguém se lembra das promessas europeias da Lisboa de Guterres? Ninguém se lembra dos compromissos de Lisboa tão saudados e adiados. Portugal associa o nome da sua capital até a compromissos porreiros sobre futuras assinaturas comprometedoras, emendas, corrigendas, dito por não dito.
Outros países europeus que receberam grandes conferências para convenções e acordos associaram tais eventos a pequenas cidades mais ou menos desconhecidas. Tratados e acordos verdadeiramente importantes (para o bem e para o mal) são conhecidos por estranhos nomes.
A cimeira Europa-África trouxe a Portugal os chefes dos estados africanos, parte deles déspotas terríveis, alguns recauchutados ainda com tripas no lugar do coração, reconhecidos criminosos com passaporte diplomático, etc. Neste grande mercado de influências, os direitos humanos ficaram guardados à vista dentro de uma mala diplomática.
Jornais portugueses publicaram anúncios de página inteira em que um ditador promove as suas ideias contrárias a convenções internacionais e às instituições de justiça e direito internacional que os governos europeus assinaram e promovem. Esta campanha publicitária paralela associada à cobertura da cimeira - o teor das notícias sem teor combinado com a ostentação simbólica de movimentações em circuito fechado - leva-nos a pensar que, afinal, talvez tudo, mesmo tudo, não passe de publicidade paga.
[o aveiro; 13/12/2007]
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