a escola não é tudo

O filme dos acontecimentos de uma aula na Escola Carolina Michaelis do Porto voltou a chamar a atenção para o que se pode passar no interior das escolas, para o que pode passar-se dentro de quaisquer portas onde há papéis e apostas de domínio.
O filme mostra-nos uma jovem descontrolada a tentar recuperar um aparelho de uso comum usado como perturbação numa sessão de trabalho marcada num certo horário. O filme mostra-nos uma pequena turba de jovens a transformar a aula perturbada num espectáculo a ser mostrado. Há um telemóvel a perturbar uma jovem e uma aula para que um outro telemóvel, projéctil lançado por um delinquente, perturbe a sociedade inteira. É um espectáculo de pessoas-coisas tão degradante como muitos outros, como todos aqueles que foram transformando vidinhas rascas em espectáculos rascas para grandes audiências rascas. Todos os dias, as televisões dizem, pelo exemplo, aos jovens daquele pobre espectáculo, que há pessoas que perecem se não aparecem nas margens da ribalta para onde dão os esgotos de um submundo de sordidez .

Para que o filme aconteça, é preciso que um professor (ou um pai, ou uma mãe) se perca no território da sala de aula e lhe sejam vedadas as portas por onde entraria a instituição da escola inteira.

O espectáculo que se segue é o filme do que não se pode ver e é mostrado a todas as horas em todos os canais, fingindo agora que os personagens não têm cara e que o novo espectáculo é discutir formas de não repetir um espectáculo destes.

Todos sabemos que estamos perante um distúrbio excepcional, mas que distúrbios destes se repetem e provavelmente cada vez com mais frequência na sociedade, em geral, e na escola, em particular. De tal modo assim é que o Procurador Geral da República entendeu por bem inscrever nos seus planos de hoje como uma das suas preocupações com vista ao futuro. Queiramos ou não, estes jovens que não reconhecem as diversas instâncias de autoridade, a começar pelos adultos - pais e professores - que lhes são próximos, ameaçam o futuro com o seu presente de perdedores tão mais radicais quanto é certo que gritam vitória a cada exposição pública dos seus distúrbios rascas.

E é preciso ter consciência que há um problema de papéis. As escolas e os professores podem cuidar de dirigir o ensino e a aprendizagem para o bem colectivo e enquadrar parte das acções e incidentes até um certo nível de estranheza. E devem reconhecer os casos para os quais são incompetentes para os acompanhar até à porta de outros sistemas sociais: de apoio, se o problema é de pobreza; penal, se o problema é delinquência; de saúde, se o problema é doença (mental, também!), etc.

A escola não é tudo. Isso não é um problema. Reconhecer isso é uma parte da solução dos problemas da escola.


[o aveiro; 27/03/2008]

1 comentário:

saltapocinhas disse...

reconhecer o problema é, de facto, importante.
Mas reconhecê-lo, denuncá-o e isso depois não ter consequências nenhumas (ao nível de apoios, por exemplo), é, infelizmente, o trivial nas nossas escolas.

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