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Não deixes entrar os americanos em casa. Foi o que ele disse ainda não se tinha sentado na cadeira mesmo à minha frente. Com os cotovelos grudados na mesa onde o meu café tinha começado a tremelicar de medo, ele olhava-me fixamente nos olhos. Quando ele fazia isso para se sentir dono da minha mesa, eu mantinha os olhos ocupados a ler as placas das reuniões dos cursos antigos.
Graças ao meu amigo, que eu nunca tive o prazer de conhecer, decorei uma parede de placas. Não me deixes entrar os americanos em casa - repetia. Mais baixo, reclamava: O que nós devíamos era correr com eles à bomba! E voltava a fixar-me nos olhos, depois do elegante gesto de arrumar farripas treinadas para a intimidade reflexiva. Nestas alturas, eu deixava correr o tempo e lia placas, umas atrás de outras.
Uma eternidade de placas depois, ele falava de novo. Sabes se os americanos já chegaram? ainda dizia antes de, finalmente, dizer o que eu esperava desde o início: Pagas-me o café? Naquele dia, eu abri a boca e soltei a frase que ele nunca me tinha ouvido: Não tenho dinheiro. Desculpa. Sem acreditar, levantou-se até chegar ao dobro da minha altura, virou-me as costas e saíu do Piolho para sempre ... o dia seguinte.
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(depoimento pessoal pedido pelo Ciência Hoje - ora viva, Jorge Massada)
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