- o que farás tu quando não tiveres que fazer?
- nada. sei lá.
- deita-te e descansa. o descanso eterno fica-te bem.
- vejo-me mais deitado no tapete rolante.
- no hiper?
- não. que horror! no forno crematório.
- ou a caminho do inferno?
- ou isso.
- suicídio?
- não. há uma série de papelada a preencher que nós não podemos assinar.
- quem pode?
- eu. quando não tiver mais que fazer. e me apetecer voar.
- terás asas então?
- a cinza não precisa de asas.
- mas também não voa, essa é que é a verdade.
- não?
- precisa de um sopro para se espalhar no ar.
- isso é voar?
- não. é um fingimento de voo.
- prometes que sopras?
- não posso. respondo. não tenho outro dom.
- a toda a gente?
- não. só a ti.
- só a mim?
- só.
- é por isso que nunca te ouvi fora da minha cabeça.
- pois.
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